Queixa das Almas Jovens Censuradas
letra: Natália Correia
música: José Mario Branco
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
sexta-feira
Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Nem só os portugueses usam e abusam da cópia dos franceses, quase todo o mundo ocidental muitas vezes em pequenas coisas ou sem dar conta disso andou e anda a reboque da França.
São tantos e tantos exemplos de como a cultura e as revoluções francesas marcaram a história do mundo ocidental.
Aproveito este post para dar um exemplo, para mim claro, e também para dar os parabéns à actriz Marion Coutillard pela incrível e maravilhosa interpretação da genial e bela Edith Piaf.
Ao ver o vídeo da Piaf a cantar o Non, Je ne Regret Rien e depois ver o vídeo da actriz a interpretar o mesmo momento, fica claro o magnifico trabalho realizado por ela e patente em todo o filme.
Depois é ver e ouvir Frank Sinatra cantar o que ele mesmo nomeia de hino nacional, My Way.
A música não é a mesma, a letra não é a mesma, mas ninguém me tira da cabeça que quem escreveu a letra do My Way conhecia muito bem a letra de Michel Vaucaire, e isto não é nenhuma critica destrutiva, muito pelo contrário. É apenas um pensamento, uma analogia minha.
A letra de Non, Je ne Regret Rien foi escrita em 1956 e gravada por Edith Piaf a 10 de Novembro de 1960, já a letra do My Way foi escrita em 1967, para mim é evidente que Paul Anka conhecia bem e admirava a letra escrita para Piaf. Mesmo a melodia do My Way é um original francês “Comme d’Habitude” escrita por Claude François e Jacques Revaux em 1967, e que o próprio Paul Anka, em entrevista, afirmou ter sentido na altura que o tema francês não era grande coisa mas que tinha qualquer coisa de especial, quem sabe não seria o Je ne sais quoi francês.
Termino este post com uma questão mais politica e social. Como sei que infelizmente não somos capazes de fazer certas coisas de outra maneira, nem sequer melhor, não se admirem se de hoje para amanhã, os jovens da Cova da Moura e de outros subúrbios de Lisboa pilharem e incendiarem o centro de Lisboa do Marquês de Pombal até à Baixa.
Edith Piaf - Non, Je ne Regret Rien
Marion Coutillard - Non, Je ne Regret Rien
Claude François - Comme d'Habitude
Frank Sinatra - My Way
quinta-feira
O que é mesmo giro é gostar de coisas que ninguém gosta, ou melhor ainda que ninguém conhece ou algum dia ouviu falar. Gostar do que mais alguém gosta é piroso, isso qualquer pessoa faz.
O que é mesmo muito inteligente é ir ver concertos sozinho, porque ninguém lá vai. Ir a exposições cheias de pó porque nem a equipa das limpezas lá passa, ver aquele quadro que o pintor que era cego pintou e só eu é que algum dia o vi, porque a equipa que o montou na sala de exposições era uma equipa de cegos também.
Isso de gostar e ver eventos culturais com mais de cem pessoas é mesmo brega.
Nem sequer me importa porquê é que gostas do artista “X”, se gosta disso é porque és assim e assado, porque todas as pessoas que gostam de esparguete são uns esparguetianos.
Não quero saber quem és, o que és, o que sentes, o que pensas, como vives. Diz-me o que ouves dir-te-ei quem és, e sem tirar nem pôr. Sou melhor que qualquer tipa que ponha cartas ou bruxa ou adivinha.
Nos últimos tempos até nem gosto de ler, porque sei que os livros foram revistos e por isso eu não sou a única pessoa no universo que os leio.
A pessoa mais à maneira que existe no mundo é aquela que toca viola em frente ao espelho, declama poesia em frente ao espelho, pinta o próprio corpo em frente ao espelho, nunca sai de casa para não se misturar com ninguém e não cair na desgraça de alguém gostar dela. Porque se alguém gosta dela, assim tanto como ela própria, então é uma desgraça, já faz parte de um grupo, do grupo de pessoas que gostam dela.
Eu sou pseudo-intelectual porque gosto da música que gosto e vivo em Lisboa.
Eu sou comunista porque gosto da festa do avante.
Eu sou limitado porque sinto que me chamarem arrogante sem fundamentarem é ofensa.
Eu sou centrado, e ainda bem.
Eu sou estúpido porque dou a cara para me dar a conhecer.
Eu sou único, mas é por não me achar parecido com mais ninguém ou por me comparar com todos, não é com certeza por saber que somos todos iguais, únicos em si mesmos.
Eu sou membro da minoria, aliás acho mesmo que o conceito de todos e tudo o que existe ser parte do mesmo do Uno é uma real estupidez.
Para todos os que me lêem, não queiras ser meu amigo, eu só gosto de mim e apenas quero ter-me a mim como amigo.
“Oh! Inclemência, Oh! Martírio…”
Por outro lado, pelos vistos o Sr. Menezes não inventa soluções avulsas, copia soluções avulsas! Mas é assim, é tão somente mais uma, das mil e uma, cópia que fazemos dos Franceses. Nós por cá como não temos nenhuma Carla Bruni, ainda vamos ver o Sr. Menezes com a Isabel Figueiras ou com a Luciana Abreu que "canta".
Estou à porta de um daqueles edifícios por quase todos, os que viveram numa cidade média ou grande portuguesa, conhecido. Uma escola secundária do tempo do estado novo, imponente, autoritário, daqueles que no topo, no frontão, por cima da porta, lá quase no céu, tem um baixo relevo a dizer algo parecido com: Educação, Disciplina e Progresso.
O edifício está completamente às escuras, eu estou acompanhado por uma meia dúzia de rapazes que não sei precisar quem são ou se conheço.
O nosso objectivo neste momento é entrar no edifício, mas existe em medo, um receio em nós, daqueles receios que nos fazem avançar, género filme de terror quando o espectador grita: não vás por aí seu estúpido, mas o protagonista vai sempre e eu no meu sonho também fui.
Entrei no edifício, tenho um átrio muito largo com uma grande escadaria arredondada nos cantos e que vai subindo todos os pisos da escola, criando uma zona no centro com um pé direito total e uma enorme clarabóia lá no topo, por essa clarabóia entra a luz que a lua reflecte do sol no outro lado da terra e é a única luz que existe neste espaço.
Começamos a subir a escada eu vou em segundo lugar, à minha frente vai alguém que sinto ser meu amigo, é grande e gordo, não sei quem será mas sei que é um amigo.
Quando estamos a começar a subida que nos levará ao segundo piso sentimos a presença de alguém dentro de uma sala no primeiro piso.
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Todos começamos a correr, a subir cada vez mais depressa. Alguns entram em salas do segundo piso para se esconderem. Eu e o gordo continuamos a subir. Finalmente consigo ver por entre o corrimão da escada o Thom York no patamar da escada no primeiro piso, está com o cabelo comprido e começa a subir, passa pelas salas do segundo piso onde amigos meus estão escondidos debaixo das mesas e em silêncio e continua a subir.
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"Immerse your soul in love."
Mais uma vez acordo imerso em suor.
boomp3.com
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Há pessoas tão tacanhas e pequenas que continuam a pensar que o contrário de democracia é ditadura! Nos dias que vivemos ainda não se deram conta, pelos vistos, que são praticamente a mesma coisa, retirando apenas o “a sangue frio”.
quarta-feira
Chegou a casa e veio o caminho todo a sentir uma estranha melancolia, ao abrir a porta sentiu um frio na espinha, um sinal de presságio, um pressentimento.
Algo não estava bem dentro daquela casa. Muito tempo tinha passado, ele já não vivia naquela casa há oito anos e no entanto foi para lá que se dirigiu todo o caminho.
A casa estava na mesma, a grande sala com o sofá em forma da letra L, metade de um quadrado, e mesa de vidro no centro, o grande caixão de madeira com a televisão em cima e cheio de lixo e tralha que todos sabiam ir acabar um dia no lixo, quando finalmente a casa fosse vendida.
À direita de quem entra, à sua direita quando entrou, o cheiro a comida a ser feita vinha da cozinha, misturado com o cheiro a cigarro da mãe a cozinhar.
Quando entrou a mãe chamou por ele, ele respondeu afirmativamente à chamada, mas o chamamento foi mais um motivo para alimentar a conjectura, alguma coisa não estava certa ali, aquela já não era a casa deles, porque estariam ali? A viver um dia banal como se o tempo não tivesse passado, ou melhor, estavam ambos oito anos mais velhos logo o tempo tinha passado, mas o passado teria que ter sido outro, porque no passado real que perfaz este presente tangível, a casa foi vendida.
Com medo e sem saber sequer do quê, encaminhou-se à cozinha. Sentiu no chamamento da mãe, mais que uma pergunta se seria ele a chegar, percebeu no tom que a mãe usou para dizer o seu nome, um pedido de ajuda.
A cozinha estava na mesma, os mesmos velhos e queimados pelo óleo das batatas fritas, móveis, a mesma torta e queimada pela fogueira de jornais, mesa de fórmica redonda e branca ao centro. A mesma porta já sem vidro, resultado da fúria de umas calças brancas que da maquina de lavar saíram cor de rosa, que dava aceso à marquise. O mesmo vão já sem porta, em frente ao vão de entrada da cozinha e que dava aceso à casa de banho e ao quarto da empregada.
A mãe preparava o jantar como se o dia fosse o mesmo ou pelo menos o mais parecido possível com o anterior, com a memória que existe no presente dos dias banais que foram vividos naquela casa.
Ao entrar na cozinha a mãe olhou para ele e com um peso no ar pediu-lhe ajuda.
Estão duas mulheres mortas no quarto da empregada, preciso que faças alguma coisa com os fios eléctricos que estão na despensa e que consigas lhes dar vida pelo menos por uns minutos, visto vir ai o director geral medir os metros quadrados do quarto, e como calculas ele não pode sequer imaginar que as meninas estão mortas.
Não percebeu nada da conversa da mãe, mesmo assim passou o vão já sem porta e à sua esquerda estava a porta do quarto da empregada, aberta.
O quarto não estava igual ao de sempre, ao invés de uma cama junto à parede da entrada, agora existiam duas camas, lado a lado. Em uma das camas estava deitada uma mulher morena, entre os vinte e cinco e trinta anos. Na outra cama uma mulher em tudo igual à primeira, mas loira. Nenhuma delas aparentava estar morta, apesar de existir já pó, muito pó por debaixo das duas. O quarto cheirava a flores.
Vês? Estão mortas, não sei o que se passou, nem sequer quem são, cheguei a casa e quando aqui vim deparei-me com este cenário, duas mulheres mortas no quarto dos fundos.
Quando voltou a olhar para a mulher loira, esta abriu um largo sorriso na sua direcção, levantou-se da cama sem a mãe dar por nada, libertava um cheiro intenso a flores e mar, abraçou-se a ele e beijou-o.
Acordou suspenso na duvida do que seria mais aquela noite intensa, rodeado de mulheres vivas ou mortas, rodeado de espaços do passado com o seu corpo do presente.
Concertos
A lista de concertos em Lisboa não pára de crescer, este ano está mesmo bom, quase todas as semanas aparece mais um nome, mais uma data, mais um artista que ainda não vi ao vivo e que quero muito ver, ouvir e viver.
A minha lista já vai assim:
Concertos para os quais já tenho bilhete:
1 – Patrick Watson – 13 de Março na Aula Magna
2 – Portishead – 27 de Março no Coliseu
Concertos para os quais ainda não tenho bilhete, ainda:
1 – Nick Cave – 21 de Abril no Coliseu
2 – Jose Gonzalez – 29 de Abril na Aula Magna
3 – The National – 11 de Maio na Aula Magna
4 – Beirut – 27 de Julho no Coliseu
Concertos ainda sem data mas que pelo andar da carruagem, até eu já acredito:
1 – Radiohead
2 – Tom Waits
3 - Amy Winehouse
4 – Arcade Fire no Coliseu
5 – Basia Bulat na Aula Magna
6 – Regina Spektor na Aula Magna
7 – Vive la Fête na Aula Magna
Concertos difíceis de acreditar:
1 – Jacques Brel na Aula Magna
2 – Nina Simone na Aula Magna
3 – Vinicius de Moraes na Aula Magna
4 – Glenn Gould na Aula Magna
5 – Edith Piaf na Aula Magna
6 – Joy DIvision na Aula Magna
7 – Jeff Buckley na Aula Magna
8 – Cartola no Coliseu
terça-feira
“Orgasmo vaginal, ejaculação feminina. Lenda ou realidade? Em termos anatómicos, o mistério gira em torno da localização do fugidio "ponto G" das mulheres. Será que foi encontrado?
Cientistas afirmam ter localizado o ponto G das mulheres graças à ecografia
21.02.2008 - 09h31 Ana Gerschenfeld
Quando, em 1950, o ginecologista alemão Ernst Gräfenberg postulou que as mulheres possuíam uma pequena região erógena particularmente sensível, situada no espaço entre a vagina e a uretra, nunca terá pensado que, no século XXI, os especialistas ainda estariam a debater a veracidade - ou não - da sua hipótese.
segunda-feira
sexta-feira
Hoje estou estupidamente romântico, ridiculamente apaixonado, Quixotesco.
E por tanto, sonho com a Valquíria a cantar-me isto:
La Vie En Rose
Des Yeux Qui Font Baisser Les Miens
Un Rire Qui Se Perd Sur Sa Bouche
Voila Le Portrait Sans Retouche
De L'homme Auguel J'appartiens
Quand Il Me Prend Dans Ses Bras,
Il Me Parle Tout Bas
Je Vois La Vie En Rose,
Il Me Dit Des Mots D'amour
Das Mots De Tous Les Jours,
Et Ca Me Fait Quelques Choses
Il Est Entre Dans Mon Coeur,
Une Part De Bonheur
Dont Je Connais La Cause,
C'est Lui Pour Moi, Moi Pour Lui
Dans La Vie, Il Me L'a Dit,
L'a Jure Pour La Vie,
Et Des Que Je L'apercois
Alors Je Sens En Moi,
Mon Coeur Qui Bat...
Des Nuits D'amour A Plus Finir
Un Grand Bonheur Qui Prend Sa Place
Les Ennuis, Des Chagrins S'effacent
Heureux, Heureux A En Mourir
Quand Il Me Prend Dans Ses Bras,
Il Me Parle Tout Bas
Je Vois La Vie En Rose,
Il Me Dit Des Mots D'amour
Das Mots De Tous Les Jours,
Et Ca Me Fait Quelques Choses
Il Est Entre Dans Mon Coeur,
Une Part De Bonheur
Dont Je Connais La Cause,
C'est Lui Pour Moi, Moi Pour Lui
Dans La Vie, Il Me L'a Dit,
L'a Jure Pour La Vie,
Et Des Que Je L'apercois
Alors Je Sens En Moi,
Mon Coeur Qui Bat...
A Vida Cor-de-Rosa (tradução livre por Vladimir Severo)
Uns Olhos que fazem baixarem os meus
Um riso que se perde na sua boca
Aqui está o retrato sem retoque
Do Homem a quem eu pertenço
Quando me agarra em seus braços
Quando me fala baixinho
Eu vejo a vida cor-de-rosa
Ele diz-me palavras de amor
As palavras de todos os dias
E isso faz em mim qualquer coisa
Ele entrou no meu coração
Um pouco de felicidade
Da qual eu conheço a causa
É ele para mim, eu para ele
Na vida, ele disse-me
e jurou pela vida
E desde que eu percebo
Então sinto em mim
O meu coração que bate...
Noites de amor que não acabam mais
Uma grande felicidade conquista o seu lugar
Os aborrecimentos e as tristezas apagam-se
Feliz, feliz até morrer
Quando me agarra em seus braços
Quando me fala baixinho
Eu vejo a vida cor-de-rosa
Ele diz-me palavras de amor
As palavras de todos os dias
E isso faz em mim qualquer coisa
Ele entrou no meu coração
Um pouco de felicidade
Da qual eu conheço a causa
É ele pra mim, eu pra ele
Na vida, ele disse-me
e jurou pela vida
E desde que eu percebo
Então sinto em mim
O meu coração que bate...
Ele:
Olho-te e imagino que sou a água que te acarícia.O teu corpo molhado, faz-me tremer.Olho tua pele de alabastro e recordo-me da noite anterior,Tu deitada sobre os lençois e eu tentanto absorver o teu cheiro,Tentando memorizar o teu olhar, o teu sorriso, o contorno dos teus seios, a suave linha das tuas ancas.
Ela:
Olho-te e imagino que sou as gotas de água que escorrem pelo teu corpo.O teu intenso olhar, faz-me tremer.Olho o teu corpo musculado e recordo-me da noite anterior,Tu de joelhos ao lado da cama e eu tentado vencer a minha timidez,Tentando memorizar as linhas do teu rosto, as curvas perfeitas dos teus musculos, o teu sorriso.
Ele:
Toco no teu ventre e rio-me da tua pele arrepiada.Nem a água fria que nos envolve acalma o fogo que me queima.Quero-te, aqui, agora, quero sentir-te.Volto a rir-me enquando os teus mamilos arrebitados surjem no limiar da água.
Ela:
Rodeio as minhas pernas na tua cintura e rio-me por me sentir feliz.A água fria apenas me faz arder e desejar-te ainda mais.Agora, aqui mesmo, quero-te, quero sentir-te.Volto a rir-me. Este momento é nosso.
quinta-feira
Cada vez mais pessoas que conheço, inclusive eu mesmo visto que sinto conhecer-me cada vez melhor, está com problemas económicos. Está toda a gente sem dinheiro. Está tudo teso portanto.
Como com os problemas dos outros posso eu bem, decidi começar por pensar no meu problema, estou teso que nem um carapau, devo uma vela a cada santo e um pacote ao nosso senhor e chego a dia 21 de Fevereiro sem dinheiro, nada agradável a minha situação portanto.
Comecei por fazer uma análise do mercado e tentar encontrar um furo qualquer onde eu consiga me encaixar.
Reparei que apesar de tesos, cada vez mais pessoas tem vontade de aprender mais, coisas novas, os cursos multiplicam-se, a palavra workshop entrou na boca do povo e agora até já se oferecem cursos de escrita criativa aos amigos, pelo aniversário.
Reparei também que cada vez mais mulheres decidiram assumir o seu gosto pelo sexo, pela prática sexual e pela procura de ter e proporcionar prazer. Até cursos de técnicas nunca antes ouvidas aparecem, existe para aí malta a ganhar um bom dinheiro apenas para ensinar as mulheres a fazer abdominais com a vagina.
Assim sendo pensei, o quê é que eu posso fazer? E hoje fez-se luz na minha cabeça.
Serve este post para anunciar que vou fazer um workshop sobre o broche, estou completamente dedicado à árdua e altruísta tarefa de ensinar às mulheres do nosso pais a verdadeira arte do broche.
O primeiro e único objectivo programático do curso, é transformar todas as participantes (só se aceitam pessoas do sexo feminino) em verdadeiras brochadeiras.
O curso tem o custo de 30€, as turmas são compostas por quatro mulheres no máximo, visto que isto com a idade também não dá para muito mais, e consiste em quatro sessões práticas e teóricas, em que a teoria será dada durante a prática do broche propriamente dito.
Os preservativos fazem parte do material da aula é são da responsabilidade das alunas, visto existirem no mercado diferentes sabores e o professor (eu no caso) não ser obrigado a saber das preferências gustativas das alunas.
Qualquer dano físico infligido ao professor será punido com uma indemnização que irá dos 500 aos 500 milhões de euros, dependendo da gravidade do mesmo, sendo que trincas que acabem em derramamento de sangue custam 500€ e a total amputação do membro em estudo 500milhões.
Os horários são a combinar entre as participantes, com a devida aprovação do professor.
Por isso meninas, têm uma amiga que faz anos? Querem surpreender o vosso macho com o melhor broche de todos os tempos? Sempre gostaram de chupar mas estão fartas de calipos? Não pensem duas vezes, estão abertas as inscrições para o mais aguardado workshop de sempre, vem transformar-te na melhor brochadeira do mundo.
Nota: praticamente impossíveis, mas a ter em conta, incapacidades momentâneas do professor para a realização da aula, serão sempre da responsabilidade da falta de talento das alunas.
Anyone else but You
Your part time lover and a full time friend,
The monkey on the back is the latest trend,
Don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you
Here is a church and here is a steeple,
We sure are cute for two ugly people,
Don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you
We both have shiny happy fits of rage,
I want more fans, you want more stage,
Don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you
I'm always tryin to keep it real,
Now I'm in love with how you feel,
I don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you
I kiss you on the brain in the shadow of the train,
I kiss you all starry eyed,
My body swings from side to side,
I don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you
The pebbles forgive me,
The trees forgive me,
So why can't,
You forgive me?
I don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you
Du du du du du du dudu
Du du du du du du dudu
I don't see what anyone can see,
In anyone else,
But you.
quarta-feira
Correspondência de Valquíria Gondul
#02
Lisboa, 20 de Fevereiro de 2008
Caro Vladimir Severo.
No seguimento do seu rol de perguntas, aqui seguem as minhas respostas.
“1- A Valquíria sabe a imensa beleza que contêm os seus olhos?”
A beleza que nos meus olhos, e não só, existe é tanta que não é sequer perceptível pela sua, pouca, capacidade de observação e percepção.
“2- Já alguma vez tropeçou num degrau, a subir uma escada?”
Nunca tropecei, nem a subir nem a descer e tenho por hábito, porque gosto, caminhar de saltos bem altos, para assim ficar bem mais alta que você.
“3- Quando e Onde é que nasceu?”
Nasci no dia seis de Junho, não lhe digo o ano porque não se pergunta a idade a uma senhora, em freixo de espada à cinta.
“4- De quê é que tem Medo?”
Só tenho medo de mim, mesma.
“5- Qual foi o lugar mais longínquo que já visitou?”
Nem só o tempo é relativo, o espaço também o pode ser, mas calculo que a sua pequenez faça com que a sua pergunta seja relativa à medição da distância em metros ou kilometros, sendo assim, o sitio mais longínquo do ponto onde lhe escrevo, que já visitei foi Tóquio.
“6- Gosta de animais? De qual gosta mais?”
Dentro dos animais racionais, os que gosto mais são os gatos, dentro dos irracionais, o homem.
“7- Gosta de fazer ditados?”
Gosto de ditar.
“8- O que lhe custou mais perder até hoje?”
Nunca perdi nada, mesmo quando vivi situações que para si seriam de perda, para mim sempre ganhei a ausência de algo.
“9- Se fosse possível viajar no tempo, a quando ia?”
Se fosse possível viajar no tempo iria sempre amanhã, nunca ontem.
“10- Já alguém a amou?”
Não sei se alguém já me amou, nem nunca me preocupei com isso, isso deve perguntar à quantidade de gente que já o afirmou.
“11- Já fez mal a alguém, com intenção de o fazer?”
Sempre que tive intenção de fazer algo, fiz.
“12- Está a ler algum livro neste momento? Qual?”
Estou a ler vários livros, posso indicar-lhe um deles: O Caso da Mulher Sádica de Ross Pynn.
“13- Sabe o que é um orgasmo?”
É claro que sei o que é um orgasmo, a maioria dos homens é que não faz a mais pálida ideia.
“14- Sempre viveu em Lisboa?”
Já vivi em muitos lugares.
“15- Quer ir dançar Tango comigo? Quando?”
Gosto de dançar tango e não vejo razão para não o fazer consigo, quanto ao quando isso já depende de si porque tenho a certeza que não tem, ainda, habilidade para o fazer comigo.
“16- 1+1= ?”
Em que sistema numérico, ou é retórico?
“17- Já mergulhou em mar alto, sem terra à vista?”
Já mergulhei em vários lugares, mesmo em mar alto.
“18- Já se sentiu musa dos meus orgasmos?”
Nunca me senti musa dos seus orgasmos, porque nem sequer algum dia pensei que os tivesse.
“19- Já partiu a cabeça?”
Nunca parti a minha cabeça, mas já parti muitas cabeças alheias.
“20- É destra ou canhota?”
Sou ambidestra, depende da acção.
“21- Lembra-se do seu primeiro beijo com a língua?”
Lembro-me muito bem de quase tudo o que aconteceu na minha vida, tenho uma óptima memória.
“22- Tem irmãos?”
Não tenho irmãos, que eu saiba. Sabe como são os homens?
“23- Onde é que não entra?”
Não entro onde não me apetece entrar.
“24- Em que posição adormece mais facilmente?”
Deitada.
“25- Vai responder-me a todas as minhas questões?”
Vou responder-lhe a todas estas questões, simplesmente porque estou bem disposta.
“26- Tem vontade de ouvir as minhas afirmações?”
Não muita, mas depois de tanta pergunta já tenho alguma vontade de ouvir uma ou outra afirmação.
“27- Quer descobrir ou inventar um mundo novo?”
O meu mundo é novo, todos os dias, e sempre criado por mim.
“28- Quantas vezes inspira num minuto?”
Depende do entusiasmo e do batimento cardíaco, neste momento não me apetece contar.
“29- Já se viu de costas?”
Já me vi de costas sim.
“30- Recebe este meu Beijo?”
Esse beijo recebo, e até retribuo.
Valquíria Gondul.
segunda-feira
Tudo parou.
Água tépida. Sinto as pequenas ondas, que fazes quando brincas com as mãos, acariciarem o meu ventre. O ir e vir da água. As gotas que escorrem lentamente ao abandonarem a minha pele. Voltam. Vão. A minha respiração. O ar quente que me invade. Entra. Sai. Lentamente. Sem pressas. Volta. O cheiro salgado do mar... Calor. O sol abraça-me suavemente os ombros. O sangue que me pulsa nas veias. O coração. Pára. Bate. Sinto. Ouço. É dentro? Fora?O som lento de risos frenéticos.
Amo-te. A ti também.
Amo o teu sorriso sem rosto. O teu tronco sem braços. Amo o corpo que somos. Amo a forma que crias. Amo os teus braços, nas tuas costas. Amo o que tu mostras e, o que tu escondes. Amo os teus pés brincalhões na tua cintura tensa. Séria. Amo a tua cintura séria. Amo a tua vontade. Amo o teu desejo. Amo o tesão que este corpo bizarro me faz...
Sentir...
Eu estou aqui. Tu e tu estão aqui. Eu vejo-te. Eu sinto-te. Eu conheço-te. Eu sou tu e tu também. Esta lente que faz parte de mim é um nós... neste corpo que somos... parado no tempo.
1.
A Besta
A Presa
A Besta
A Presa
E no descanso do sexo – o beijo. Um beijo e mais outro a crescer o desejo. Adivinho o que me pede e dou sem descanso. O nosso ruído é bom.
De manhã ele parte em silêncio. Levo comigo a saudade. Vivi!
Quem dera teu corpo ouvir
O apelo do meu a pedir
Me coloco de quatro no acto
Até você desistir
Na garrafa me dispo
Quem dera ouvir teu gemido pedindo um beijo
Queremos paz, queremos construir una vida mejor para nuestro pueblo y, por eso, eludimos al máximo caer en las provocaciones maquinadas por los yanquis, pero conocemos la mentalidad de sus gobernantes; quieren hacernos pagar muy caro el precio de esa paz. Nosotros contestamos que ese precio no puede llegar más allá de las fronteras de la dignidad.
domingo
sexta-feira
Que horas são? Onde estou? Onde vamos? Para quê?
Quantas viagens teremos de fazer, para saber que o que nos sufoca somos nós?
Não é o peso do teu braço que me angustia. Este que agora sinto como uma pesada corrente, fria, que me queima a pele.
Tu sabes. Eu sei. Mas continuamos a ir, como se por acaso acreditassemos que poderemos respirar...
Onde foi que nos perdemos? Onde foi que nos encontramos amarrados?
Solta-me. Quero respirar. O ar que soltas da tua boca.
Ainda há pouco respirava contigo, a cabeça abandonada no teu peito, o coração cerceado pelos teus braços. Sonhava? Sonhava, pois. Que outra explicação pode haver? Juro que não sabia quando me deixei adormecer, quando me permiti intoxicar lentamente pelo baloiço descarrilado, pela doçura do sono respirado em conjunto. Ele? Não sei o que pensou. Mais certo será que nada tenha pensado. Soltou os braços e recebeu o meu tombo. Foi generoso, à sua maneira. Mas depois foi apertando, apertando. Suponho que não soubesse sequer evitá-lo...
Ingrato, o despertar. Bizarro. Um bem-estar que passa a mal enquanto com os dedos desfaço os pequenos nós de maquilhagem que ainda se me agarram às pestanas, enquanto eu esfrego um olho. Dói-me o pescoço, tenho os rins feitos em papa e o ouvido esquerdo louco com o tique-taque que há pelo menos uma hora o vem moendo, insidioso. É tarde. E tu não usas relógio. Ainda há pouco respirávamos juntos e já os fôlegos se contestam, misturados no arfar bruto do comboio. Estes braços desconhecidos apertam-me o pescoço que me dói insuportavelmente. Liberto-me suavemente, escorrendo pelo meio deles, como uma cobra. Estalo as vértebras para que o ar possa voltar a passar livremente, ao seu ritmo e não seguindo um passo alheio. Olho o seu rosto adormecido. Nunca o vi, estranho-me e estranho-o. Juro que não me apercebi de quem era, de quem eu era, quando me abandonei. Acredita-me. Foi o escuro, foram os olhos pesados, foi o coração apertado, foi o seu cheiro nos meus poros despertos. Ainda está escuro, mas já não tenho vontade de dormir, mau-grado todo o sono que me pesa nos olhos. A carruagem está agora vazia, já as respirações largaram os corpos em atraso e alcançaram por si o seu destino. A carruagem está agora vazia, e eu jurá-lo-ei, jurá-lo-ei até que me creias. Está vazia.
quarta-feira
não estou dentro d'água
estou dentro de ti
a água está seca
perto do teu molhado
as ondas dos teus braços
as danças das tuas ancas
o teu peito no centro do mundo
as tuas coxas contra as minhas
as tuas pernas que me prendem
as marés a subir e descer
no palpitar do sangue no meu pénis
tudo ferve, tudo é nada
tu és, eu sou, nós estamos
dentro de ti é que me reconheço
no rio na cama na sala
de frente deitados de pé por trás
somos uma forma com conteúdo
inversos complementares
e respiras cada vez mais rápido
e sou eu que estou a boiar em ti
vamos voltar à outra margem?
nadar em ti é tudo, não pares
continua, enquanto houver água
continua, prende-me mais
continua, abre-te mais
continua, não pares
vou largar estas pedras
quero sentir o teu húmido
existe água entre nós?
vou ancorar-me a ti
vou afogar-me em ti
E assim começa a discussão. Salta-se de um assunto para o outro, começam as acusações.
- Já se sabe, é sempre assim: disseste...
- Não, nunca disse uma coisa dessas!
- Estás a chamar-me mentirosa!?
Sinto que não tarda a rebentar uma daquelas disputas terríveis em que apetecia matar-me ou matá-la. Sei que não vai tardar e, como tenho um medo mortal disso, tento conter-me, mas a raiva domina todo o meu ser. E ela está na mesma situação, ou pior, porque interpreta ao contrário todas as minhas palavras, dá-lhes um falso sentido; cada palavra dela sai-lhe impregnada de veneno; alfineta-me nos pontos mais dolorosos. E tudo vai de mal a pior. Grito:
- Cala-te!
Matei-a porque me pertencia.
Errata
onde se lê:
Matei-a porque me pertencia.
deve ler-se:
Matei-a porque não me pertencia.
terça-feira
segunda-feira
não existem boas ou más acções.
o tempo destrói tudo.
as acções provocam reacções
e todas são irreversíveis.
a única liberdade é a morte.
Enquanto Há Força
(José Afonso)
Enquanto há força
No braço que vinga
Que venham ventos
Virar-nos as quilhas
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também
Levanta o braço
Faz dele uma barra
Que venha a brisa
Lavar-nos a cara
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também
sexta-feira
A igreja estava toda iluminada,
Muita gente convidada,
Eu também fui para ver.
Ninguém sabe a tristeza que sentia
Porque mesmo nesse dia
Casava a mulher amada.
Ela chegou acompanhada do padrinho
que a levava ao seu destino,
O que eu nunca imaginei.
E por momentos tive toda a ilusão
Que o seu anel de noivado
Já perdera o coração.
À saída da igreja iluminada
Ela estava já casada,
A mulher que eu adorei.
Entre vivas de parentes e amigos
Acerquei-me a desejar-lhe
"Que sejas sempre feliz!".
E aconteceu que ela nem sequer pensara
Encontrar-me cara a cara
E não soube o que dizer.
E foi chorando assim
Inundada no seu pranto.
O seu vestido vai molhando
Ao chorar de amor por mim.
Palavras para quê?
boomp3.com
They say it fades if you let it,
love was made to forget it.
I carved your name across my eyelids,
you pray for rain I pray for blindness.
If you still want me, please forgive me,
the crown of love has fallen from me.
If you still want me, please forgive me,
because the spark is not within me.
I snuffed it out before my mom walked in my bedroom.
The only thing that you keep changing
is your name, my love keeps growing
still the same, just like a cancer,
and you won’t give me a straight answer!
If you still want me, please forgive me,
the crown of love has fallen from me.
If you still want me please forgive me
because your hands are not upon me.
I shrugged them off before my mom walked in my bedroom.
The pains of love, and they keep growing,
in my heart there’s flowers growing
on the grave of our old love,
since you gave me a straight answer.
If you still want me, please forgive me,
the crown of love is not upon me
If you still want me, please forgive me,
cause this crown is not within me.
it’s not within me, it’s not within me.
You got to be the one,
you got to be the way,
your name is the only word that I can say
You got to be the one,
you got to be the way,
your name is the only word,
the only word that I can say!
pos-post:
É verdade, não desaparece mas sofre uma metamorfose,
se o permitirmos, se não aceitarmos que tudo é impermanente.
Mas não foi feito para esquecer,
simplesmente porque é inesquecível.
Na sua essência.
O perdão reside em nós mesmos,
só nós podemos nos perdoar,
e só esse perdão é real e construtivo.
Quando nos perdoamos, oferecemos
ao outro o perdão, uma porta real.
A faísca não está mais contigo?
Queres fazer alguma pergunta directa?
Precisas culpar-te para perdoar?
Ainda existem dúvidas?
Ficou assim tanto por dizer?
O que guardas corrói-te?
Se desejas estar comigo, por favor não te culpes.
Porque se não, vais obrigar-nos a fazer o mesmo.
Tatuagem
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...
E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, farta
Murcha, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a ferro
Fogo e frio
Em carne viva...
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...
Esse Cara
Ah! Que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ah! Que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando chega a madrugada ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher
quinta-feira
Depois de todo este tempo e alguma resistência revelo as fotografias da nossa última viagem.
Retenho esta especialmente por já transparecer o sufoco que me causavas havia algum tempo.
Contigo nunca fui eu, nunca consegui ser eu. Nunca me quiseste conhecer verdadeiramente. Mas não imaginas o quão perto estiveste de o fazer se tivesses guardado o teu descansado sono para quando chegássemos a casa. Não podias, sempre estiveste demasiadamente focado em ti próprio para perceberes as alterações que em mim se davam. Se bem que no fundo acredito que tenhas percebido desde o princípio. No entanto, o teu egocentrismo não te permitia aceitar sequer a ideia de que eu me tivesse cansado de teatralizar o amor.
Afinal de contas era a nossa peça, não querias admitir que a tua actriz secundária te deixasse a representar um monólogo de abandono e frustração.
Não. Os projectores estavam apontados a ti e como moscas deveriamos girar à tua volta.
Não suportava mais a minha própria anulação perante ti. Os teus abraços claustrofóbicos, os teus carinhos encenados. As demonstrações de amor em público para mostrares que tinhas a vida que muitos queriam. E eu? Um adorno, quase um adereço!
Dias depois desta foto fechei a cortina do teu palco e decidi viver uma vida real, minha.
Todo este tempo passado, ao olhar esta cena imortalizada do último acto, pergunto-me que papel desempenho desde então.
Deveria ter queimado os negativos.
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos te tapo as orelhas,
e os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
e não rebentas, Marinha?
Ninguém me toca como tu...
Ninguém percorre os meus lábios como tu...
Ninguém conhece os meus sentidos como tu...
Ninguém sente o meu respirar ofegante como tu...
Ninguém entra dentro de mim como tu...
Ninguém respira o meu corpo como tu...
Ninguém com o olhar me descontrola como tu...
Ninguém me sente como tu....
...e eu não sinto ninguém, como sinto a ti
Nos retratos dos outros
daqueles que não os meus
sonho com o suor do teu corpo
alagado – em mim
No relaxo descuidado do teu braço
anunciando a partida em cada paragem
Sonho com esse amor que se esfrega
enquanto promete o fim
Nos retratos dos outros
invento o começo e o fim
Há dias em que lembro as tuas mãos a apertarem-me de encontro ao teu corpo no calor da tua segurança
sentia-me tão cansada
aconchegavas sem saberes as lágrimas que vertia por dentro, não percebo de onde vêm porque às vezes um sorriso, talvez das despedidas, sem dizer adeus com palavras,
- Adeus, até breve
somente nos olhos uma saudade futura
- até breve
até quando?
e a tua mão que me puxava cheia de certezas, a ignorar a minha mãe a emudecer um grito
- Adeus, até breve
que o estômago lhe enviava e ela lhe devolvia porque a minha mãe a engolir um grito ao ouvir aquela besta de ferro a apitar e a anunciar
- Adeus
eu um nó no estômago a calar-me, a tua mão a puxar-me para dentro do estômago da besta que ia engolindo outras pessoas, sem perceberes as lágrimas que não se vêem, tal como nunca percebeste quando eu abraçada aos meus joelhos, a dúvida de alguma vez tornar a vê-la
A pouco e pouco a terra a mover-se debaixo dos nossos pés sem que caminhássemos em direcção alguma, apenas o desconhecido como destino e ao fim de uns dias os dias todos iguais, as mesmas palavras os mesmos beijos, as tuas mãos a afogarem-me contra o teu corpo
os apitos da besta de ferro agora uma música aborrecida sempre com o mesmo tempo o mesmo compasso as mesmas notas repetidas, o estômago agora sem nós nem borboletas, vazio a protestar
- tenho fome
e eu vazia abraçada aos joelhos por não ter ninguém para abraçar a habituar-me às lágrimas que nunca percebeste e nunca aconchegaste, foram tão poucos os dias em que as tuas mãos me apertaram seguras e o comboio rasgava a paisagem sem interrupções, à janela a minha mãe a dizer coisas em silêncio, se calhar,
- Adeus até breve
às quais eu respondia com olhos brilhantes de saudade, a minha aldeia a encolher e depois a janela desfocada, a lembrar coisas que sinceramente preferia esquecer a respirar sozinha pela primeira vez enquanto embaciava o vidro e aconchegava no teu colo a minha mãe agora sozinha, o meu pai morto hà que anos e os meus irmãos alguns que eu nem conheci na França à procura de melhor sorte a acenar em silêncio,
- Eu prometo que lhe escrevo mãezinha
assim como prometi a mim mesma que te escreveria e nunca escrevi, e eu a ver a aldeia encolher à medida que também a minha mãe encolhia e a tua mão me puxava
- Vou fazer de ti uma mulher feliz
a acreditar sem prometer nada de volta e tu a cobrares-me tal como ela
- Porque não dizes que me amas?
eu a querer acreditar
- amo-te
sentia-me tão cansada
e a adormecer logo de seguida embalada pelo sono da viagem com a tua voz de fundo,
- vou fazer de ti uma mulher feliz
eu a querer acreditar mas indiferente à espera desesperada por uma estação onde pudesse
- vou comprar cigarros
e nunca mais tu ou a minha mãe e somente eu com as vossas lágrimas e à espera que outra besta qualquer me engolisse e me guardasse nas suas entranhas.
Há dias em que lembro aquele comboio em que fizémos uma viagem tão curta e desejo ter seguido viagem, mas sentia-me tão cansada.
A noite surge lentamente. Anseio por te ver e matar esta fome que me endoidece perante ti. Perante a presença do teu ser. Da tua alma.
Perco-me na lembrança e deixo-me guiar pelos meus lábios. Perco-me nas lágrimas e beijo-te a pele húmida e acarício as tuas cruvas. Amo-te. Quero-te em mim para sempre. Sufoco na felicidade que me dás. Penetro em ti e desejo eternidade. Escorrem as lágrimas que choro na tua pele. Fica a memoria do teu cheiro, dos teus doces gestos. Grito na solidão porque te tenho em mim. Desespero e sufoco de tristeza na tua ausência. Sinto o teu cheiro na minha pele, no meu cabelo. Sinto-te pulsar nas profundezas quentes e húmidas do meu ser. A dor grita porque tenho-te sem te ter. Está tão em mim.
A cama parece maior. Amúsica perde o significado mas ganha uma forte emoção. A rotina diária faz com que os dias sejam apenas mais um dia. Horas desperdiçadas cheias de dor, raiva, amor, tristeza e ansiedade. Estás em mim, sempre em mim e isso ninguém nem nada me tira. És o meu sonho, a minha vida, a minha morte, a minha obsessão.