terça-feira

Aprender a ser Rapaz, com C.
Pequeno conto com banda sonora do Quiz Musical #01 - #09

Era uma vez um rapaz cabisbaixo, tinha deixado de acreditar em tudo, em todos, nele mesmo. Pior, preocupava-se em acreditar e que acreditassem nele, ao invés de viver. Não vivia.
Começou por jurar a si mesmo dizer sempre a verdade, a todos, a tudo, a ele mesmo. Começou por acreditar, porque a jura é muitas vezes um princípio para a crença, que saberia sempre o que é a verdade.
Mas não conseguia conhecer ninguém, mesmo o mais aparentemente parecido com ele, que lhe mostrasse acreditar na verdade. Estava farto. E assim abandonou o outro a quem também um dia já tinha jurado ser sempre verdadeiro.
Vagueou pelo mundo, amorfo.
Até que um dia, numa tasca boémia, conheceu um rapaz grisalho que lhe disse: amar e ser amado é a única coisa que há a aprender nesta vida.
Saiu da tasca embriagado de palavras, começou a entregar-se aos que mostravam viver a intensidade da vida, aos que mostravam ter fome quando fome tinham, os que morrem de vontade. Foi cercar-se do fogo dos que ardem e deixar arder-se no fogo dos seus próprios sonhos e desejos.
Viveu assim, algum tempo, encantado.
O tempo passou, como sempre passa, o rapaz cresceu e mudou, como todos crescemos e tudo muda no devir do tempo, e certo dia reencontrou o passado numa estação de comboios, numa nova encruzilhada ou bifurcação. O sonho passado, já tinha passado à história, agora, depois de tanto fogo, tanta chama imensa, imensa mudança, o sonho era novo, era outro. Quem sabe o passado poderia ser um novo presente?
Sonhou com isso e questionou. Será isso o amor? Será o amor fazer todos os dias do passado um novo presente?, ardente!, e nunca esquecer?
A nova dúvida, quase certeza, gerou no rapaz um novo medo. Algo o prendia numa gravidade estática, queria voar, sentia que queria voar mas o seu corpo era um peso sempre presente, uma prisão do seu provir. Não conseguia dançar a dança dos corpos interligados, pavio magistral do amor.
Sentia-se novamente perdido, como fazer do passado, presente?
Aceitou, entregou-se, deixou de se preocupar com a queda, cair passou a ser voar.
E o presente de súbito é constante.
Por mais frio, por mais dor, agora o rapaz construí túneis a ligar janelas, e as cores são todas belas e ardem dentro dele.

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