quarta-feira




Óscar trabalhava como empregado de mesa. Todas as terças-feiras ia ter com o seu amante numa pensão discreta mas de má fama nos confins da cidade.

Ana, esposa de Óscar era professora na escola mais próxima. Tinham três filhos. Maria, mãe de Ana, tomava conta deles durante o dia. Ana não era feliz. Odiava os filhos e fazia os possíveis para chegar o mais tarde que podia a casa. Na escola entrara um professor. Ana enamorara-se. Nunca se tinha sentido tão feliz e realizada. Encontravam-se sempre que podiam numa casa de família de Júlio, amante de Ana. Era uma casa vazia, esquecida pela família. Ana não gostava da casa, mas era o melhor que podiam arranjar.

Maria um dia foi ajudar uma amiga com a venda das flores. Sempre trazia algum dinheiro para casa, pois os tempos estavam difíceis. Nesse dia, viu Óscar e quando ia falar com ele, reparou que ia muito apressado. Intrigada, seguiu-o. Achou estranho ele entrar naquela pensão moribunda e decadente. Entrou com repulsa. Cheirava a queijo bolorento. Subiu as escadas que davam para os quartos e viu Óscar entrar. Maria, zangada e revoltada decidiu agir. Era uma mulher impulsiva e nem pensou duas vezes. Abriu a porta e viu dois homens seminus a beijarem-se. Maria ficou perplexa. Saiu a correr sem olhar para trás. Óscar, vestiu-se o melhor que conseguiu e encurralou Maria no corredor. Implorou-lhe para não o denunciar à polícia, para não contar nada a Ana. Convenceu-a com o ultimo argumento que nunca mais veria o tal homem. Maria nem sabia o que pensar. Fechou-se e nada disse a ninguém.

Ana acabara as suas obrigações na escola e foi directamente ter com o seu amante. Feliz da vida nem reparou que a sua mãe estava a vender flores. Maria fervia há um mês com o que vira na pensão. Seguiu a filha para desabafar, já não aguentava mais. Porém, algo não batia certo. Onde ia Ana? Que casa era aquela? Viu-a entrar ao longe, Ana ia tão depressa que Maria não conseguiu manter o passo a tempo de a abordar. Chegou à porta da casa e tentou recuperar o fôlego antes de entrar. Ana estava tão cabeça no ar que nem reparara que deixou a porta por fechar. Maria abriu-a e não viu ninguém. Chamou por alguém, mas nada. Deu mais um passo e ouviu qualquer coisa. Abriu a porta de onde vinha o som e para seu horror viu Ana mais o amante numa posição pouco própria. Ana sentindo-se surpresa e humilhada, agarrou num lençol para se cobrir e foi ter com a mãe.

-Mãe? Por favor, não contes nada ao Óscar! Peço-te! Nunca estive tão feliz. Promete-me!

Maria não disse nem uma palavra. Saiu devagar, como se não tivesse visto nada.

-Júlia, disse Maria à sua amiga florista, Preciso de me ir embora. Desculpa, mas não posso ficar mais.

-Maria! Mulher, mas que tens? Estás pálida! Sentes-te bem? Disse Júlia.

-Sim, eu estou bem. Vou-me embora.

Maria chega a casa, tinha pedido a uma vizinha para vigiar os miúdos. Sentou-se numa mesinha e escreveu:

Óscar e Ana,

Quando lerem esta carta já não estarei entre vós.

Espero que reconheçam o favor que vos faço.

Amor e carinho,
Maria

Ana e Óscar encontram-se à porta de casa. Olham-se e falam do tempo. Entram e não encontram Maria nem os miúdos. A casa está demasiado silenciosa. Sentem a falta do cheiro do jantar acabadinho de fazer. Ana entra na casa de banho e dá um grito. Óscar vai ver o que se passa e agarra Ana e abraça-a com toda a sua força. Choram os dois, gritam e desesperam. No lavatório estava o pedaço de papel que a Maria escrevera. Óscar grita que a culpa é toda sua. Ana grita que a culpa é toda dela. Cada um chora para seu lado deixando o cenário de terror para trás. Maria e as crianças, mortas.

- Óscar, a culpa é toda minha. É um castigo de Deus. Eu traí-te com Júlio, a minha mãe apanhou-nos hoje… A culpa é toda minha… Porquê? Mas porquê? MÃEEEEEEEE…..

-Ana, não posso crer! Tu?? Tu o quê???? O Júlio?? O novo professor??? Mas ele veio para cá, por MIM. Ele era meu amante! MEU!

- Que dizes???

- Agora compreendo tudo, pois a tua mãe também me apanhara com ele…

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