- Boa tarde, desculpe. Sabe-me dizer o quê é que se passa do outro lado do pano?
- Oh! Homem, se quer saber espreite como todos.
- Mas é que tenho medo de espreitar e ver o que não quero.
- Se tem medo compre um cão!
- Mas e se o cão me foge por esse buraco que o pano tem em baixo?
- Oh! Homem, já lhe disse que se tem medo, compre, comprar é a solução do medo, se tem medo que o cão lhe fuja, compre uma trela
- Mas custa-lhe muito me dizer o que se passa do outro lado do pano?
- E o quê é que vossemecê tem a ver com o que me custa ou deixa de custar, mas quem é você para eu estar aqui a partilhar consigo se me custa ou não custa. Homem já lhe disse, tudo custa sempre alguma coisa.
- E o seu amigo, acha que ele me dizia o que se passa do outro lado do pano.
- Não me metam na conversa que eu sou homem de poucas palavras e só quero é espreitar, não gosto de falar enquanto espreito.
- Ai tem a sua resposta. Agora se não quer espreitar vá-se embora e deixe-me aqui sossegado, que já me fez perder muito tempo, e neste mundo onde vivemos nada se pode perder, porque depois é mais caro para voltar a comprar.
5 Minutos depois…
- Mas desculpe mais uma vez, não teria algum prazer em ajudar um estranho que se sente perdido?
- Irra que vossemecê é chato como o caralho, chiça penico, e olhe já estou tão irritado que vou matar dois coelhos com uma cajadada só. Sabe você porquê é que se sente perdido? Sabe? Por acaso sabe me dizer o porquê de se sentir perdido?
- O porquê não sei, mas sinto-me perdido, não sei onde estou de onde venho e para onde vou.
- Homem, do lado de lá do pano é o mundo dos Homens sem chapéu, e, ou você passa para lá, ou compra um chapéu, caso contrário vai continuar a ser a besta estúpida e desenquadrada que é, felizmente que se sente como tal, por quem não se sente não é filho de boa gente, agora raspe-se daqui, desampare-me a loja. Xô!
terça-feira
Imagem a contextualizar #04 - by ElMau
Fotografia de Henri Cartier Bresson
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6 opiniões:
ahahahah que prato!
toma lá o meu
- ui ui ui ui.. (risos)
- shhhh vê lá se fazes menos barulho
- espera tá quaise quaise...!
- cala-te lá com isso, pareces.. (risos) desencosta o nariz daí pá! cheio de pó que nojo..!
- nojo? eu te dizia o que é nojo, não estivesse tão obstruído pelo alcoól! (risos)
- parece-me que vem lá alguém... rápido, rápido!
- ui cheirinho bom, que toque de seda (risos)... deixa-me sentir este corpo coberto com um véu de porcaria que se me entranha..
- sai daí parvalhão! não vou ficar aqui a tarde toda a fazer de segurança, já me sinto sei lá o quê com este bigode..
- "se você djissé que eu djisafino amô..!"
- já chega de palhaçada Rogério! tenho que ir tirar estas roupas!
- quero ficar aqui encostado.. ou estendes-me os braços?
- estendo-te o quê? tu cala-te homem! já não tenho idade para estas andanças, já viste bem a minha vestimenta?
- mmm adoro.. adoro essa tua dupla personalidade..! (risos)
- e eu adorava que acabasses de urinar, já é de manhã já bebeste os copos todos, eu já me dei de mim, já chega!
- já destes de ti.. hmpf.. mas porque é que hoje não pode ser um dia diferente dos outros? porque é que o sol é que nos vai continuar a iluminar em vez da noite? a iluminar salvo seja, a dar-nos luz?
- Rogério, Rogério, sabes bem que não pode ser, anda lá tens que ir trabalhar e eu preparar o almoço.
- cozinhar para ti? que desperdicío, alimenta-te do meu Eu..
- mas tu hoje 'tás impossível! qual alimentar-te do teu Eu?! há quantos anos me conheces? há quantos anos andamos nesta vida maluca?
- é por isso.. estou cansado.. acordei contigo este pacto, mas acho que não quero continuar assim. quero ser eu, na minha porca miséria em vez de fazer sangrar a minha alma o dia inteiro, para me deixar fazer nascer o poeta..
- alcoólico!
- shh.. que há em mim à noite.. que me permite ser quem sou e mostrar o que sinto.
- Rogério..
- estou farto sim PORRA!
- shhh olha as pessoas..!
- merda para eles todos! a puta da vida inteira a preocupar-me com os outros, a preocupar-me com que os outros sentem, com o que os outros vão pensar de mim, que vão pensar dos meus objectivos. a querer viver uma vida bela e moderna como todos os outros. TODOS OCOS! isso sim, é que mete nojo! depois de tudo o que passámos sempre achei melhor este acordo..! uma vida fingidora de dia, o nosso eu de noite. mas que absurdo! não sou leproso, nem um homossexual casado com medo de me mostrar aos meus filhos! não tenho 3 olhos, nada! sou igual a todos esses merdas que se conduzem todos os dias para o trabalho, casa, família, tudo na mesma monotonia. tenho é sonhos e quero-me fazer evidenciar! quero SABER PORQUE ESTOU AQUI E QUERO MOSTRÁ-LO, MERDA!
- eii.... isto agora deu-te para o mau vinho?? percebo o que me dizes meu amigo.. mas já não sei como viver..
- vive comigo Eunice, larga esse teu bigode e guarda a tua voz de bagaço para me cantares fado vadio em noites frias..
lindo la folie, já me parti a rir, muito bom, vejo que acertei estive para aqui a ver que foto colocar porque já estavas a dar mostras de ressaca e pelos vistos acertei.
muito bom mesmo, amanhã publico, agora tenho que ir na minha vidinha monotona para casa e depois betty...
e eu também quero SABER PORQUE ESTOU AQUI E QUERO MOSTRÁ-LO, MERDA!
Esta foto é muito boa mesmo. O gajo de bigode faz-me lembrar alguém que conheço... alguém demoníaco talvez.
Enquanto o diabo esfrega um olho, e enquanto a chefe não chega, posso só escrever duas, três linhas para esta foto?
Como diz o povo, não há duas sem três. E à terceira é de vez.
PAC, é obvio que podes escrever as linhas que quiseres, com diabo sem diabo, como quiseres, mas escreve sim.
Pronto, já enviei meia-dúzia de linhas. A estória foi encurtada, porque entretanto chegou a chefe e tenho de fazer algo de mais produtivo.
Bem, estou mais do que atrasada na brincadeira..
Aqui esta um texto para esta imagem.
Oscar trabalhava como empregado de mesa. Todas as terças-feiras ia ter com o seu amante numa pensão discreta mas de má fama nos confins da cidade.
Ana, esposa de Oscar era professora na escola mais próxima. Tinham três filhos. Maria, mãe de Ana, tomava conta deles durante o dia. Ana não era feliz. Ódiava os filhos e fazia os possíveis para chegar o mais tarde que podia a casa. Na escola entrara um professor. Ana enamorara-se. Nunca se tinha sentido tão feliz e ralizada. Encontravam-se sempre que podiam numa casa de familia de Júlio, amante de Ana. Era uma casa vazia, esquecida pela família. Ana não gostava da casa, mas era o melhor que podiam arranjar.
Maria um dia foi ajudar uma amiga com a venda das flores. Sempre trazia algum dinheiro para casa, pois os tempos estavam difíceis. Nesse dia, viu Oscar e quando ia falar com ele, reparou que ia muito apressado. Intrigada, seguio-o. Achou estranho ele entrar naquela pensão moribumba e decadente. Entrou com repulsa. Cheirava a queijo bolorento. Sobiu as escadas que davam para os quartos e viu Oscar entrar. Maria, zangada e revoltada decidiu agir. Era uma mulher impulsive e nem pensou duas vezes. Abriu a porta e viu dois homens semi-nus a beijarem-se. Maria ficou preplexa. Saiu a corer sem olhar para trás. Oscar, vestiu-se o melhor que conseguiu e encurralou Maria no corredor. Implorou-lhe para não o denúnciar à polícia, para não contra nada a Ana. Convenceu-a com o ultimo argumento que nunca mais veria o tal homem. Maria nem sabia o que pensar. Fechou-se e nada disse a ninguém.
Ana acabara as suas obrigações na escola e foi directamente ter com o seu amante. Feliz da vida nem reparou que a sua mãe estava a vender flores. Maria fervia há um mês com o que vira na pensão. Seguiu a filha para desabafar, já não aguentava mais. Porém, algo não batia certo. Onde ia Ana? Que casa era aquela? Viu-a entrar ao longe, Ana ia tão depressa que Maria não conseguiu manter o passo a tempo de a abordar. Chegou à porta da casa e tentou recuperar o folego antes de entrar. Ana, estava tão cabeça no ar que nem reparara que deixou a porta por fechar. Maria abriu-a e não viu ninguém. Chamou por alguém, mas nada. Deu mais um passo e ouviu qualquer coisa. Abriu a porta de onde via o som e para seu horror viu Ana mais o amante numa posição pouco própria. Ana sentindo-se surpresa e humilhada, agarrou num lençol para se cobrir e foi ter com a mãe.
-Mãe? Por favor, não contes nada ao Oscar! Peço-te! Nunca estive tão feliz. Promete-me!
Maria não disse nem uma palavra. Saiu devagar, como se não tivesse visto nada.
-Júlia, disse Maria à sua amiga florista, Preciso de me ir embora. Desculpa, mas não posso ficar mais.
-Maria! Mulher, mas que tens? Estás pálida! Sentes-te bem?, disse Júlia.
-Sim, eu estou bem. Vou-me embora.
Maria chega a casa, tinha pedido a uma vizinha para vigiar os miúdos. Sentou-se numa mesinha e escreveu:
Oscar e Ana,
Quando lerem esta carta já não estarei entre vós.
Espero que reconheçam o favor que vos faço.
Amor e carinho,
Maria
Ana e Oscar encontram-se à porta de casa. Olham-se e falam do tempo. Entram e não encontram Maria nem os miúdos. A casa está demasiado silênciosa. Sentem a falta do cheiro do jantar acabadinho de fazer. Ana entra na casa-de-banho e dá um grito. Oscar vai ver o que se passa e agarra Ana e abraça-a com toda a sua força. Choram os dois, gritam e desesperam. No lavatório estava o pedaço de papel que a Maria escrevera. Oscar grita que a culpa é toda sua. Ana grita que a culpa é toda dela. Cada um chora para seu lado deixando o cenário de terror para trás. Maria e as crianças, mortas.
- Oscar, a culpa é toda minha. É um castigo de Deus. Eu traí-te com Julio, a minha mãe apanhou-nos hoje… A culpa é toda minha… Porquê? Mas porquê? MÃEEEEEEEE…..
-Ana, não posso crer! Tu?? Tu o quê???? O Júlio?? O novo professor??? Mas ele veio para cá, por MIM. Ele era meu amante! MEU!
- Que dizes???
Agora compreendo tudo, pois a tua mãe também me apanhara com ele…
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