quinta-feira




Ainda não foi hoje que choveu. Ainda não é hoje que vou poder finalmente abrir este guarda-chuva que me acompanha desde que o caminho começou.
No dia em que encontrei este chapéu, foi sem duvida o mais feliz da minha vida, de criança feito adulto. Já utilizei o chapéu para me proteger do sol e das bombas, já me protegeu da noite e dos palhaços que assaltam crianças durante o escuro. Toda a gente os vê, mas ninguém fala deles.
Ninguém...
Este ninguém que me deu um chapéu preto, da cor dos meus sapatos castanhos, um chapéu que é só meu porque é do meu tamanho, e porque os pés dos outros, não se molham nesta chuva de ninguém.
Vou continuar a andar até encontrar a chuva colorida, longe deste mundo de pernas fugidias, carregadas com os sacos de outros monstros, que eu não vejo porque mais ninguém vê. Eu e o meu chapéu vamos sozinhos, encostados a este país demasiado grande para o meu casaco.
O meu pai levou outros casacos para outro sítio, a minha mãe dança á chuva sem chapéu.
Eu vou, ele também vai, cada um vai para o sítio que os botas mandam, eu não vou para lado nenhum, porque ninguém me vê, vou andando á procura da chuva.
Sentei-me na neve e abri o guarda-chuva, criou-se um iglo que me escondeu dos palhaços de sapatos grandes, escondi-me no escuro deste branco que me cobre... Ainda não chove, ainda não vi ninguém...

Luís Feliz

2 opiniões:

Maura disse...

Gosto disto! A ideia dos palhaços é muito boa!

Anónimo disse...

belo texto luis tu que sorris! e fazes sorrir