O homem da boina que descia a rua direita é abordado por um estranho de chapéu de coco:
- Espreite agora que não vem lá ninguém!
- Espreitar? E o que poderei eu ver através dessa vedação, caro senhor?
- Esta é uma rede de sonhos. Espreite e prometo-lhe um jardim de calmaria. Verá as órbitas onde se movem os planetas e terá à sua espera palavras começadas por vogais. Espreite!
- Mas estarei eu habilitado a tal façanha?
- Nada lhe é exigido. Agarre a sua boina e espreite. Que teme você?
- É das minhas certezas que eu temo. Temo o chão debaixo dos meus pés se desvanecer e não ter ninguém para segurar a minha mão.
- …Verá que consegue. Prometo-lhe o jardim de calmaria. Mas espreite!
- Palavra?
- A palavra de mim, ninguém ma tira. E se de mim fugir, dou-lhe a própria vida para voltar a tomá-la. QUE DIABO, ESPREITE! Atreva-se a desafiar o seu próprio destino e espreite. ESPREITE!
O homem da boina que descia a rua direita aproxima-se da vedação e espreita.
De lá, vê uma triste sombra. Era a escuridão que brilhava. Era um céu breu de luto. Não via ninguém. Só uma triste sombra que definhava num choro silencioso.
Assustado, o homem da boina que descia a rua direita, esconde o olhar com as mãos, parecendo não querer enfrentar o seu próprio destino e clama num grito desesperado:
- Não quero olhar! Não quero mesmo!
- Você que vêm da rua direita, aquela é a sua alma que está à espreita. Angústia é a palavra que tinha à sua espera. Mas se quer acabar com essa maleita, volte a espreitar. ESPREITE!
Disse o estranho do chapéu de coco enquanto se afastava daquela redenção, subindo a rua direita em passos muitos lentos, para que os seus cascos não escorregassem nas pedras do chão.
Relutante, o homem da boina que descia a rua direita, espreita outra vez através da vedação. Espreita vagarosamente lá para dentro mas… já não estava lá ninguém.
Num acto de desespero, volta-se para trás e vê o estranho de chapéu de coco ao cimo da rua direita. Apenas lhe vislumbra uma tocha na mão. E de imediato… uma fria labareda lhe reduz a alma a cinzas, espalhando-as pelo jardim do outro lado da vedação.
Do estranho de chapéu de coco, mais palavras não vieram. Simplesmente afastou-se e dobrou a esquina da rua direita. Mas cumpriu a sua palavra com mestria, pois ofereceu-lhe o jardim da calmaria.
Indiferentes, os transeuntes passavam sem ligar. Já estavam todos a par da estória, não era segredo para ninguém. Apenas para o homem da boina que descia a rua direita, que se definhou num profundo e sombrio desespero a caminho da sua libertação. Desvaneceu-se por isso no chão, pois do outro lado, não teve ninguém para lhe segurar a mão.
- Espreite agora que não vem lá ninguém!
- Espreitar? E o que poderei eu ver através dessa vedação, caro senhor?
- Esta é uma rede de sonhos. Espreite e prometo-lhe um jardim de calmaria. Verá as órbitas onde se movem os planetas e terá à sua espera palavras começadas por vogais. Espreite!
- Mas estarei eu habilitado a tal façanha?
- Nada lhe é exigido. Agarre a sua boina e espreite. Que teme você?
- É das minhas certezas que eu temo. Temo o chão debaixo dos meus pés se desvanecer e não ter ninguém para segurar a minha mão.
- …Verá que consegue. Prometo-lhe o jardim de calmaria. Mas espreite!
- Palavra?
- A palavra de mim, ninguém ma tira. E se de mim fugir, dou-lhe a própria vida para voltar a tomá-la. QUE DIABO, ESPREITE! Atreva-se a desafiar o seu próprio destino e espreite. ESPREITE!
O homem da boina que descia a rua direita aproxima-se da vedação e espreita.
De lá, vê uma triste sombra. Era a escuridão que brilhava. Era um céu breu de luto. Não via ninguém. Só uma triste sombra que definhava num choro silencioso.
Assustado, o homem da boina que descia a rua direita, esconde o olhar com as mãos, parecendo não querer enfrentar o seu próprio destino e clama num grito desesperado:
- Não quero olhar! Não quero mesmo!
- Você que vêm da rua direita, aquela é a sua alma que está à espreita. Angústia é a palavra que tinha à sua espera. Mas se quer acabar com essa maleita, volte a espreitar. ESPREITE!
Disse o estranho do chapéu de coco enquanto se afastava daquela redenção, subindo a rua direita em passos muitos lentos, para que os seus cascos não escorregassem nas pedras do chão.
Relutante, o homem da boina que descia a rua direita, espreita outra vez através da vedação. Espreita vagarosamente lá para dentro mas… já não estava lá ninguém.
Num acto de desespero, volta-se para trás e vê o estranho de chapéu de coco ao cimo da rua direita. Apenas lhe vislumbra uma tocha na mão. E de imediato… uma fria labareda lhe reduz a alma a cinzas, espalhando-as pelo jardim do outro lado da vedação.
Do estranho de chapéu de coco, mais palavras não vieram. Simplesmente afastou-se e dobrou a esquina da rua direita. Mas cumpriu a sua palavra com mestria, pois ofereceu-lhe o jardim da calmaria.
Indiferentes, os transeuntes passavam sem ligar. Já estavam todos a par da estória, não era segredo para ninguém. Apenas para o homem da boina que descia a rua direita, que se definhou num profundo e sombrio desespero a caminho da sua libertação. Desvaneceu-se por isso no chão, pois do outro lado, não teve ninguém para lhe segurar a mão.
8 opiniões:
Genial texto PAC, infelizmente sei que não tiveste tempo para o escrever como querias e da mesma forma eu não tive tempo para fazer com a foto tudo o que o teu texto me inspirou a fazer.
Oh PAC, vê lá se largas o que andas a fazer e começas mas é a escrever mais aqui para nós te lermos!
Mau, a foto está óptima! Transmite o que é suposto! ;)
obrigado Maura.
Beijo.
Elmau: a foto está óptima! Isso se a interpretação do texto te levar a considerar o senhor dos cascos como um demónio. Sabe-se lá se não será um anjo... afinal o outro não queria o jardim da calmaria??? Bom não vale a pena pôr as pessoas a cabeça das pessoas à roda, a pensar nisso.
Maura: como te disse, os outros textos meus estão arquivados no recycle-bin.
E sim, de facto não escrevi da forma que queria. Apareceu a chefe de repente e tive de acabar o texto à pressa.
Em todo o caso a ideia inicial era escrever sobre outra coisa.. Gajo de bigode... leva a javardice. Javardice... leva a orgias. Orgias... leva a gaijas. Gaijas... leva a camarão. Mas FOD***** elmau, a foto era preto-e-branco e não consegui.
Enfim... em todo o caso o texto tá preparado para javardice. Basta para isso substituir a expressão “homem do chapéu de coco” por “homem do chapéu de cócó”.
Pronto na escrevo mai nada pq doi-me a cabeça e já escrevi merda a mais.
Beijos e abraços.
clap clap clap! se bem que essa ideia do homem do chapéu de cócó me levou a questionar de gostei assim tanto do texto ou se gostaria mais da javardice
La folie: obrigado pelo clap clap clap your hands say yeah.
Acho que existe algo parecido à javardice que estava a magicar em www.urbanodepressivos.blogspot.com (é questão de procurares).
Acho que não dei o devido valor a esta foto no meu comentário anterior. De facto está lá a alma a desvanecer-se em cinzas. De facto está lá a chama fria do estranho de chapéu de coco. De facto o chapéu vermelho dá um ar mais atractivo para que o outro não resista à tentação de espreitar. Só resta a dúvida em saber se o diabo lhe roubou a alma ou se lhe deu a redenção.
Parabéns elmau!
obrigado PAC.
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