quarta-feira



Quem Partiu
Baralha

Quem Deu
Corta

Quem Escolheu


Quem Perdeu
Escolhe

Quem Quiser
Joga

terça-feira


Escrever sem pensar duas vezes, o impulso de deixar as letras correrem para o monitor ao som de tic tac toc do teclado.
Dizer tudo o que aparece na cabeça, ou pelo menos tudo o que me apercebo que chega à minha cabeça, não ter medo das palavras, para não ter medo das acções, para não ter medo dos sentimentos e não recear as reações.
Quem diz tudo o que quer, tem de estar preparado para ouvir o que não quer.
Existe em mim, um alguêm de uma competência extraordinária, nasceu para ser guarda numa fronteira, não passa nada, a linha está bem desenhada, os postos de vigia colocados estrategicamente, nem para um lado nem para o outro. Aqui é o fim do caminho ou o inicio do mesmo, aqui em mim, e devido à competência deste senhor, apenas acontece o que não interessa a ninguêm, nem a mim mesmo, apenas acontecem aqueles momentos que não existem. Porque nada começa, nada acaba, tudo existe simplesmente.
Quem conhecer um destruidor de muros à altura, que deixe no comentário o seu contacto, quero por a andar este guarda, já estou cansado dele.

segunda-feira

É como um encantamento. E não te centres apenas na mente, criando imagens fruto da tua visão imaginária, porque não é apenas a luz que reflecte nas superfícies de uma forma diferente do habitual.
Também não é suficiente construir uma memória inexistente, mas tão rica, que nela existem cheiros, texturas, sons e paladares.
Não é só o oxigénio ou as flores que cheiram de forma particular. É que o alto relevo, aos quadrados, da toalha de papel também ganhou de súbito um cem número de novos adjectivos, macio, suave, fofo.
É verdade que a cerveja está muito mais fresca do que ontem e sabe tão bem, a as conversas em redor, têm agora um ritmo e uma melodia, enquadrada em ti, no teu eu, contigo, aqui e agora, comigo.
É como um encantamento.
Que não está apenas no teu exterior ou na certeza ilusória do como o percepcionas, vives ou interpretas.
É algo que surge de dentro de mim, que quando é sentido e consciencializado se transforma num todo, que te inclui a ti e a mim.
É a felicidade.

sexta-feira

O quê que faço eu aqui
Abafado pelo nada que me rodeia
Injectado pela solidão que já trago na veia
Amurdaçado pelo silêncio que me penetra
Viciado na dor encarando-a como certa

Que faço eu aqui
Entre quatro paredes perdido
Depois da guerra e ainda ferido
Por entre caminhos e desfiladeiras vagueio
Sem um abrigo na alma sinto-me cheio

Que faço eu aqui
Sabendo que aqui não estou
Sabendo que aqui não quero estar
Sabendo para aonde não vou
Cançado de esperar

E afinal que faço eu aqui
A escrever estas linhas tortas
A sentir esta dor, revoltas
A pensar nesta angustia, tristezas
À espera de ti, sem certezas

Canetas com que escrevo
Alma com que leio
Relação

Mão com que toco
Pele com que sinto
Tesão


Cheiros com que sonho
Olhos fechados que veêm
Razão

Vou com o que tenho
Procurar
Ganhar
Enriquecer e Ficar

Ficar aqui com o que tenho


Depois de tudo

Tudo o que toquei… fiquei.

terça-feira



Quanto Tempo tem o Presente?

Ao olhar para ele naquele reflexo, primeiro não quis acreditar no que estava a ver, foi como se o tempo não só tivesse parado, como tivesse voltado para trás, quase até ao inicio, e num milésimo de segundo reproduzisse dentro de mim, toda a minha existência desde então, desde esse primeiro, ou segundo, ou terceiro inicio, de tantos inícios que sinto já ter vivido aqui. Hoje sinto, que não houve inicio como aquele, nunca tinha ouvido, e nunca mais voltei a ouvir um tiro de partida tão forte, que accionasse em mim tanta gana de ir, ir viver.

Não sei quanto tempo durou essa gana, mas acho que não foi muito, medido tecnicamente, com a grandeza do minuto, não foram mais de dois mil e seiscentos. Parece muito, principalmente se comparar com este momento, em que o reconheci, acolá. Se nunca tivéssemos inventado a hora, e ainda medíssemos o tempo em manhãs, tardes e noites, que é como quem diz: em dias, essa gana não durou mais de quinze dias, eu sinto.

Depois apareceu a saudade, sentimento normal de sofreremos, por vezes sem dor, outras com aconchego, por aqueles que amamos. Só que esta saudade trouxe com ela alguma solidão, que transportava perda, e esta acarretava alguma necessidade de desapego, desapego esse que depressa se alastrou para me sentir desapegado de mim mesmo, sem objectivos. E o tempo que durou a insignificância, reconheço que foi grande e custoso a passar.

Ao acordar hoje, já só tinha a minha mais recente rotina na cabeça, tudo estava normal à minha volta, o dia tinha nascido, o despertador tinha tocado, nada poderia me dizer que agora iria estar aqui, a questionar-me, a pesquisar a minha memória, a sentir que apenas o que guardamos na memória existiu realmente, tudo o resto desaparece para qualquer lugar, ou quem sabe para outras memórias, que não a nossa.


Sei que lês, lês porque escrevo, lês porque sabes ler e escrever, aliás como eu, estás sempre aqui, presente, a ler ou escrever, feliz ou infeliz, estás sempre presente, mais uma vez como eu. Quase nunca paras para ver, julgas que estás sempre a pensar, na verdade estás sempre é a deixar o tempo passar, o mesmo tempo que pensas não existir, deixas fugir o presente para um passado qualquer, que só eu sinto conhecer realmente, sem conseguires olhar um futuro concreto, vives a construir ilusões de futuro no presente e parece-me que só eu vivo realmente neste tempo.

Temo a solidão, vivo a procurar-me em lugares que não exploras, porque na verdade estás constantemente num limbo, num lugar onde julgas viver, onde julgas que escrevo e lês onde não existo, porque anulas a minha própria existência. É a velha questão do Ovo e da Galinha, é a velha questão do Eu e do Outro, da Verdade e da Mentira, do Bem e do Mal, do Certo e do Errado, do Branco e do Preto, do Cheio e do Vazio, dos Opostos, do Poder, da Dualidade. Sempre presente, a torturar a tua suposta eloquência sobre a vida e os porquês das coisas.

Nasceste num determinado dia, em qualquer lugar, no mesmo dia e no mesmo lugar que eu, os diversos presentes que ocorreram na tua vida foram-te criando, moldando, alimentando, concebendo, assim como a mim. Nunca os sentiste como tão influentes na tua forma de viver, de sentir, de pensar, porque sempre encaraste a vida como um presente fugaz, onde o passado é memória e o futuro ilusão, assim, acabas sempre por chegar ao lugar nenhum, aqui, ao tempo parado, ao mais doloroso momento da dor parada num tempo eterno, aqui.

Engano-me ao escrever, cometo erros, enganas-te ao ler, julgas ver-te nestas linhas, mas também não estou aqui, nem estás aí, provavelmente estás onde não está ninguém, nem tu mesmo, nem eu mesmo, porque aí, onde lês, e aqui, onde escrevo, onde julgas viver, não deixas ninguém estar, somente a minha própria ilusão de ti mesmo, assim julgas conseguir fugir dos meus males, das minhas dores, das minhas frustrações, julgas que as tuas certezas, o teu poder, a tua racionalidade são tudo. Pensaste que conseguias ser mais forte que a dor, e talvez vás continuar a pensar, tinhas a certeza que ias conseguir ser mais forte que eu, que eu nunca mais te vinha visitar, não consegues perceber que a dor é na sua mais dura realidade a única ponte que deixas existir entre tu e eu mesmo. Eu sinto que só vives na dor, tu pensas que ela nem sequer existe, é racionável, quando ela te dá uma trégua momentânea, voltas ao mesmo, o tal limbo do deixar o tempo fugir.

Não penses que te trato pela segunda pessoa do singular por estar à vontade contigo, dirigia-me mais facilmente ao Outro desta forma, trato-te assim para ver se te ouves, se eu me oiço, se te encontras, se me encontro, para perceber que existe Um caminho real, para ti e para mim, não quero é usar a primeira pessoa do plural, por ser plural, e a pluralidade que existe em ti e em mim, só conseguiu foi destruir momentos, aniquilar o presente ou em ilusões não vividas ou em revoltas e desesperos exagerados.

Contudo não escrevo só para ti, que lês, agora, escrevo também para o Outro que vai ler e para eu reler também, um dia, talvez, quem sabe, tu tens a certeza que sim, eu desesperadamente duvido, escrevo também para Ele e também é a Ele que quero contar esta história, e por mais que não o sinta agora e que tu nunca o tenhas sentido, Esta história é nossa, minha e tua, tu é que não deixas-te que fosse do Outro, Dele, e como eu queria que esta história fosse Dela também, só não quero é que sejas tu o narrador, até tenho medo que o venhas a ser mais à frente, talvez vá ser a prova que mais uma vez eu escrevi, eu contei, eu senti, eu vivi, o passado; e tu voltaste a conseguir submergir e anular-me, voltaste a conseguir sobreviver num presente que não deixas existir, pensando que deixei de existir nesta história, se te tornares o narrador, esta história passa a ser só tua, procuras o poder. A única forma de seres o narrador desta história, para a história vir a ter um presente e um final feliz, é se tu e eu finalmente entendermos e aceitarmos esta história como nossa, de outra forma vai sempre continuar a ser a mesma história que foi até agora, esta história, velha.

segunda-feira

Vamos partir do princípio quase inquestionável e matemático de que tu, nesse preciso momento em que lês estas linhas, estás sozinha. Nesse e não Neste preciso momento.
Porque neste preciso momento em que eu as escrevo também estou sozinho, em outro espaço.
Vamos partir do principio que o encontro existe, porque já o sentiste, porque já o senti e até porque já o sentimos juntos.
Então provamos facilmente que se vivêssemos todos à mesma velocidade e num espaço ou realidade linear, nunca o encontro seria possível.
O encontro entre seres é a prova concreta, de que vivemos numa realidade curva e sinuosa, esbelta. É a prova de que vivemos a velocidades diferentes até em tempos diferentes.
Depois existem aqueles momentos, em que o espaço, o tempo, as velocidades e os seres, chocam, proporcionando um rebentar de energias, que fazem tudo acelerar ou retardar, que fazem a luz reflectir de uma outra forma qualquer sobre as superfícies.
Se todos vivêssemos o mesmo momento, à mesma velocidade, no mesmo espaço, nunca, já mais, em tempo ou espaço algum, nos encontraríamos.

É por este, e por outros textos que tenho andado a escrever, que quero viver o meu presente, à minha velocidade, no lugar que me rodeia, aqui e agora.
Não dês nem muita, nem pouca importância ao que te escrevo, nem sequer tem muito a ver com o teu desabafo, mas já é tarde e achei que a melhor resposta a um desabafo era desabafar também.
Amanhã, depois de reler o teu texto, que à primeira leitura me pareceu lindo, posso tentar escrever qualquer coisa sobre ele, quem sabe… neste momento sei que não é o momento certo para isso.