Alguém por ai quer brincar?
A brincadeira consiste em escrever algo, um diálogo, um pequeno conto, um qualquer passado ou presente ou futuro, um ou dois pensamentos.
A brincadeira consiste em criar um contexto para uma imagem.
Podem escrever aí no opinário ou enviar para o meu mail que eu publico.
Vamos brincar?
Imagem a contextualizar #01 - by ElMau
“Paris, 24 de Agosto de 1967
Querido amigo ElMau.
Sopram ventos de mudança em Paris, sente-se um clima de agitação na cidade e já se vislumbra a transformação ao virar da esquina.
Mando-te uma das minhas mais recentes fotografias como prenda pelo teu aniversário, estive na dúvida em te enviar uma outra mas que chegasse a ti neste dia, optei por retratar um pouco desta cidade que sei que amas no teu dia de aniversário, sabendo de ante mão que não iras receber a minha prenda hoje.
Acho que a minha escolha te vai encantar, sei como amas Paris, sei como amas Mulheres e sei também do teu fascínio pela fotografia e pela observação, no fundo um pouco do muito que temos em comum.
Deixo-te com a minha história da imagem que te envio.
Madame Guinot nasceu em Orgeval, uma pequena localidade a 36 quilómetros de Paris no ano de 1900, perdeu a ingenuidade aos 14 anos, com o inicio da primeira guerra mundial, que terminou no dia em que completou 18 anos de vida, a 11 de Novembro de 1918. Casou com 26 anos, quando finalmente, e depois de tantos tumultos, encontrou o Amor. Entre o casamento e os seus 30 anos teve 3 filhos, um rapaz e duas raparigas.
Com 40 anos perdeu o seu marido para a segunda guerra e aos 42 a mesma senhora levou-lhe o filho mais velho, teve que fazer de tudo um pouco para sobreviver, ela e as suas duas filhas, hoje uma com 40 anos e outra com 38.
Raquel nasceu a 2 de Junho de 1946, não me parece ser coincidência o facto de ter nascido exactamente 9 meses depois do dia em que a segunda grande guerra terminou, Raquel é produto do rebentar da liberdade, é fruto daquele dia maravilhoso em que por momentos todos sentimos que o Amor existe e sonhámos que tinha chegado para ficar. Raquel não sabe quem é o Pai, pela sua fisionomia e cor do cabelo a mãe desconfia.
Madame Guinot observa Raquel com um misto de juízo de valor, inveja e dúvida. Aquela mulher de 21 anos que a seu lado bebe a mesma água que ela e lê o mesmo jornal, nada tem a ver com o que ela era na sua idade. Sai à rua quase desnuda, com as coxas e as pernas de fora, luta pela liberdade sexual quando na altura de Madame Guinot quase não existiam homens, quanto mais o desejo de liberdade. Ela, apesar de ler o mesmo jornal, na verdade nem percebe muito bem de que liberdade fala agora a juventude, toda a sua vida apenas conheceu um homem por Amor, todos os outros homens que a conheceram sexualmente forçaram-na a isso.
Como é possível agora a juventude querer praticar o sexo livremente e afirmá-lo publicamente, questionasse. Na verdade não sabem o que é passar verdadeiras dificuldades e torturas, preocupam-se com coisas menores, conclui.
Raquel lê um artigo de opinião de uma jornalista, ligada com movimentos de esquerda, acaricia os lábios e recorda o pénis erecto que beijou e esgotou ainda esta manhã.
E é isto amigo, muitos pensam que vêm aí maus ventos, eu ando fascinado e excitado com o presente, parece que as mulheres decidiram finalmente assumir que gostam tanto de sexo como nós, e já não se limitam a assumir isso por debaixo dos lençóis, trazem essa bandeira para as ruas de Paris e passeiam-se maravilhosamente belas.
Vem visitar-me em breve, cá te espero.
Um abraço.”
quinta-feira
Fotografia de Henri Cartier Bresson
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12 opiniões:
"Também quero um daqueles na minha boca", pensa a velha.
Seja bem aparecida Sua Alteza, bons olhos a leiam.
Apareça sempre.
Beijo.
Muito agradecida, muito agradecida, visitar um cavalheiro simpático e galanteador é sempre um prazer. Então e essasentradas?
"... que ressaca." , pensa a jovem.
Helena, não se tem sentido bem e após vários médicos e exames, aceitou o facto de ter cancro e que não terá tanto tempo de vida. Saiu de casa ontem sem dar ouvidos a ninguém e foi parar a um bar ao acaso. Sentou-se na mesa que lhe parecia mais discreta e pediu a sua bebida.
Um homem já nos seus 40 anos, bem parecido e charmoso, aproximou-se de Helena e conversaram a noite toda. Falar com desconhecidos é sempre mais fácil.
Ricardo e Helena sairam bem animados do bar e acabaram na casa de Ricardo. Este, mais do que embriagado, deixou-se cair no sofá e ali ficou, esquecendo-se da existencia de Helena. Não querendo voltar para casa, Helena decide sair apanhar um taxi para um destino ao acaso porém, ao abrir a porta encontra uma mulher a olhar para si.
"Ricardo está no sofá a dormir. Ele...", dizia Helena. "Shhh", disse Isabel. "Chamo-me Isabel, sou a filha mais velha de Ricardo." Helena apenas disse "Sou Helena."
Isabel agarrando gentilmente o braço de Helena, leva-a para o seu quarto. Sentam-se na cama. Olham-se nos olhos. Isabel oferece a Helena um copo de cognac. Passam assim uma hora. Estando em pé, juntas a dançar ao som de algo calmo, algo acontece e envolvem-se.
Helena, que nunca consegue dormir muito, levanta-se cedo e sai em silêncio. Decide andar e quando dá por si, já a vida está na rua e senta-se num café qualquer para pelo menos tentar tomar o pequeno-almoço.
"... que ressaca." Pede um jornal e tenta distrair-se com os titulos. Nada de serve. As únicas palavras que lhe ocupam a alma é 'morte', 'amor' e 'arrependimento'.
Dois meses depois, Helena morre.
A senhora idosa, cumpre sempre o seu ritual. Levanta-se cedo, compra o jornal e vai tomar o seu pequeno-almoço. No dia em que esteve ao lado de Helena, lembra-se de a ter observado e pensado em como gostava de ser jovem outravez. Hoje, no seu ritual matinal, ao ler o jornal lê o óbituário de Helena.
Sua alteza, umas foram maravilhosamente boas, outras razoáveis.
lucia, muito obrigado pela partilha e por vires brincar comigo, muito bonita a tua contextualização, cinematográfica mesmo. Belo texto, volta sempre que vou continuar com esta brincadeira, acho que pode dar coisas bem giras. Beijo.
lucia, posso tomar a liberdade de fazer um post com a tua contextualização?
claro que podes!
Obrigado pelas tuas palavras.
Mas que grande ideia, El Mau! E prémios, não há? Ehehe ;)
não vou falar de prémios por agora, porque não gosto de falar antes da hora, mas tu és revisora não é? quem sabe ainda vais ser util.
Obrigado pelo elogio, estou com a sensação que se isto pegar pode ser realmente uma boa ideia para fazer outras coisas. a ver vamos.
"Como é que eu saio daqui sem pagar a conta, o raio da velha não pára de olhar para mim... O que é que vou fazer da minha vida, e agora para onde vou... Como fui estupida, pensar que ele ficaria comigo cuidaria de mim... No que é que me tornei? Mas tenho a certeza que os tomei todos, como dizia para fazer... será que perderam o efeito com o alcoól? será que numa dessas noites embriagadas me esqueci... não funciona, são tudo mentiras que nos contam a apregoar liberdade... Estou desamparada, como é que ele me escurraça desta forma? Desamparada não, estou desesperada, nem me deichou trazer a minha roupa... tudo bem que foi ele que me deu, mas não vai fazer nada com ela... ou vai, claro que vai, arranja outra parva para o idolatrar... eu não sou parva, também o usei... mas que ganhei eu com isso... que nojo... o meu ventre... vai crescer, será que se nota? quem me vai querer? tenho de tirar esta coisa de dentro de mim... que asco... que monstro que sou... no que me transformei... preciso de vomitar..."
-“ Coitadita da garota… o que lhe terá acontecido? Porque chorará a miúda?... Estas gaiatas de hoje em dia vivem demais… é o que dá depois…se fosse como no meu tempo choraria por não poder chorar. Mas será que ela não consegue parar? Ai, credo… Que aflição! Com mil raios, o diabo da miúda já nem me deixa ler o jornal… Jesus, mas eu não consigo mesmo ler... não tiro os olhos da garota… ela bem tenta disfarçar, coitada… com o jornal ao colo e com aqueles cabelos caídos e sedosos, tão jovem, tão bonita e tão infeliz...a esconder os olhos e o choro com o cabelinho. Ai… (risos)… mas pôs o jornal de pernas para o ar!… Coitadita da miúda… Se calhar, devia dar-lhe umas palavrinhas… afinal, podia ser minha bisneta… fui tão estúpida em ter ido sempre à D. Rosa. Hoje podia ter família que falasse e cuidasse de mim e não precisaria de vir aqui todos os dias gastar a minha pequena pensão de sobrevivência em desculpas de gingerales com gelo e limão, só para ver pessoas a pass(e)ar na rua e só para poder tentar ter alguém com quem conversar um pouco… mas estou a ver que até sou uma felizarda… porque não venho para o café para chorar. ”
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