terça-feira



Quanto Tempo tem o Presente?

Ao olhar para ele naquele reflexo, primeiro não quis acreditar no que estava a ver, foi como se o tempo não só tivesse parado, como tivesse voltado para trás, quase até ao inicio, e num milésimo de segundo reproduzisse dentro de mim, toda a minha existência desde então, desde esse primeiro, ou segundo, ou terceiro inicio, de tantos inícios que sinto já ter vivido aqui. Hoje sinto, que não houve inicio como aquele, nunca tinha ouvido, e nunca mais voltei a ouvir um tiro de partida tão forte, que accionasse em mim tanta gana de ir, ir viver.

Não sei quanto tempo durou essa gana, mas acho que não foi muito, medido tecnicamente, com a grandeza do minuto, não foram mais de dois mil e seiscentos. Parece muito, principalmente se comparar com este momento, em que o reconheci, acolá. Se nunca tivéssemos inventado a hora, e ainda medíssemos o tempo em manhãs, tardes e noites, que é como quem diz: em dias, essa gana não durou mais de quinze dias, eu sinto.

Depois apareceu a saudade, sentimento normal de sofreremos, por vezes sem dor, outras com aconchego, por aqueles que amamos. Só que esta saudade trouxe com ela alguma solidão, que transportava perda, e esta acarretava alguma necessidade de desapego, desapego esse que depressa se alastrou para me sentir desapegado de mim mesmo, sem objectivos. E o tempo que durou a insignificância, reconheço que foi grande e custoso a passar.

Ao acordar hoje, já só tinha a minha mais recente rotina na cabeça, tudo estava normal à minha volta, o dia tinha nascido, o despertador tinha tocado, nada poderia me dizer que agora iria estar aqui, a questionar-me, a pesquisar a minha memória, a sentir que apenas o que guardamos na memória existiu realmente, tudo o resto desaparece para qualquer lugar, ou quem sabe para outras memórias, que não a nossa.

0 opiniões: