Morangos Silvestres, foi o primeiro filme que vi do realizador Ingmar Bergman, é um filme fabuloso que nos fala da realidade, do sonho e da memória.
Começa praticamente com esta cena onde o personagem principal sonha com a sua morte. O filme é uma viagem pelas memórias deste personagem, pelo seu passado, e pela forma como ele vê e revive o seu passado. Magistral.
quinta-feira
Persepolis, estreia em Portugal no dia 14 de Fevereiro. Um filme de animação baseado numa banda desenhada de uma autora nascida no Irão.
Estou muito curioso para ver, nunca fui grande adepto do género da animação, mas nos últimos anos tenho visto alguns filmes que tenho gostado muito, assim começo a sentir que este vai ser mais um.
Mais um dos dias em que o diabo saiu à rua
A erupção mais intensa do Vesúvio ocorreu no dia 24 de Agosto do ano de 79, quando o vulcão entrou em erupção e a lava quente cobriu as cidades de Pompeia e Herculano com uma camada de dois metros de espessura. Em seguida, o vulcão lançou cinzas e pedras que formaram outra camada de dez a quinze metros. Entre 20 mil e 30 mil habitantes morreram sufocados pelas cinzas ou sob os tetos das casas que desabavam.
Os documentos históricos dizem que a tragédia do ano 79 aconteceu num tempo relativamente curto. A erupção começou às 13h de 24 de Agosto, quando o Vesúvio expeliu uma nuvem super aquecida. Doze horas depois, com a erupção já teriam morrido milhares de pessoas
Era terça-feira, estava uma manhã cheia de nevoeiro. 8:00 são os números no relógio, pinnnnn é o som no despertador.
Acordou, Luís acordou de mais uma noite, de mais um sonho, de mais um pesadelo.
Já não aguento mais, todas as noites é isto, sonho com isto há meses, sonho todas as noites com o mesmo, este pesadelo persegue-me, preciso saber se mais alguém tem este pesadelo, preciso saber se alguém sofre como eu, preciso saber se posso partilhar isto com alguém, preciso saber se não sou o único, preciso de algo rapidamente.
O Telefone.
É vermelho finalmente, ainda há pouco era preto, cinzento, escuro. Agora é vermelho, reflecte o meu espaço, cheio de luz.
Neste momento o telefone parecia-lhe realmente vermelho, tinha uma forma equilibrada, parecia fácil de utilizar, estava sem pó, resplandecia luz. O auscultador era leve, não pesava nada, onde ponha a orelha era um sítio cómodo, quando lá encostava o ouvido, não era mais preciso segurar o telefone, ele ficava a flutuar na atmosfera. Por onde falava, era um ouvido aberto, era como que um amigo que está sempre presente quando é preciso, estava lá sempre pronto a ouvir tudo o que lhe queríamos dizer, por onde Luís ouvia, agora, sabia que iria sempre ouvir resposta, nunca o silêncio, nunca a indiferença. O auscultador agora auscultava a dor.
Vou telefonar a alguém.
Tenho que contar este pesadelo que me persegue, a alguém.
Tenho que tornar de alguma forma pública a minha dor.
3230808, impedido.
4318888, …, …, está a chamar…
- Está?
- Está, Hugo?
- Sim, quem fala?
- Sou eu o Luís, acordei-te?
- Não, …, fala.
- Preciso falar com alguém, acordei agora, mais uma vez tive um pesadelo que tenho, há messes, já não aguento mais, preciso contá-lo a alguém, estou cansado de o guardar para mim, queres ouvir?
- Calma meu, fala, é só um pesadelo.
- Não é isso, é grave, não é só um pesadelo, é a minha vida, durmo quase metade da minha vida e, então, passo metade da minha vida a viver este pesadelo horrível, e a outra metade a tentar não me lembrar dele, sem nunca conseguir esquece-lo. Estou cansado, estou farto, nada do que faço quando estou acordado me faz esquece-lo de vez, quando estou com vocês apenas consigo não lembra-lo por uns momentos, depois ele volta sempre, às vezes volta mais forte.
- Calma, queres que eu vá ai?
- Não, isso demorava tempo, já não tenho tempo, quero contar-to já.
- Força.
- Imagina um corredor no nada, é mesmo um corredor no nada, não vês o fundo do corredor, nem o inicio. Esse corredor por vezes tem algumas janelas mas as janelas apenas mostram imagens do meu passado. Todas as janelas que tento abrir não consigo, fico apenas como espectador do meu passado a passar. São sempre imagens felizes, são sempre imagens de momentos felizes do meu passado, mas que agora já não posso viver, apenas observar, por vezes eu apareço nessas imagens, ou pelo menos penso que sou eu, mas fisicamente é outra pessoa, mais alta, mais gorda, mais bonita.
- Então e tu andas só a passear nesse corredor? Não acontece mais nada a noite toda?
- Não é bem assim, imagina que te estás a ver como se estivesses fora do teu próprio corpo, inicialmente o sonho é assim, eu estou a ver-me caminhar por esse corredor que penso ser um corredor de hotel, ou coisa parecida, porque as portas têm todas números, e são muitos números. Eu começo a caminhar no corredor sempre no número oito. Primeiro tenho uma visão muito geral do espaço, que está bem iluminado por muitas janelas, todas elas quadros de momentos felizes do meu passado, eu estou a ver-me relativamente ao longe e começo a caminhar, vejo a porta oito, nove, dez, onze…. À medida que vou andando as janelas vão sendo menos e o espaço começa a ficar escuro, vou também aproximando-me da imagem de mim, mas ao mesmo tempo que me aproximo de mim, em principio deveria começar a ver-me melhor, mas não, parece que a imagem de mim vai desaparecendo aos poucos, como se o facto de já só existirem momentos felizes no meu passado transformarem o meu presente em algo destrutivo e não construtivo, logo se já não estou a construir o meu presente, não vou ter memórias dele quando ele for passado, logo vou ter um futuro sem memórias, que seria o mesmo que não ter futuro.
De repente, … não mais que de repente, o telefone começa a mudar de cor como se de um camaleão se tratasse, começa também a mudar de forma, o que dantes era um ouvido por onde Luís falava, começa agora a parecer uma boca que vai mastigando e cuspindo todas as suas palavras.
Silêncio.
- Está? Luís estás ai ainda?
- Sim desculpa parece que estou a ver coisas, não devo andar bem. Bom nunca consigo chegar ao número 24, porque é quando passo no número 22 que tudo se perde, fico tão próximo da minha imagem que entro nela e começo a ver o corredor não como se estivesse fora da acção, fora de mim, mas agora vejo o corredor pelos meus olhos, só que antes de entrar em mim reparo que já só metade de mim tem alguma definição, que mesmo assim é muito pouca, a outra metade é um conjunto de imagens sem forma diluindo-se no ar. Aqui começa o pesadelo verdadeiramente, e dura toda a noite, porque chegando ao número 22, eu vejo duas porta mais ao longe, mas não consigo ver os números, calculo que sejam o 23 e o 24, depois do 24 não vejo mais nada, apesar do corredor continuar, o corredor já não tem mais janelas, do 22 em diante. Só que nunca consigo seguir no corredor, porque quando dou o primeiro passo já dentro de mim, começo simplesmente a cair, cair sem fim, não é voar, é cair. Por vezes caiu no início do corredor, outras noites acordo e ainda estou a cair, já aconteceu também cair em ambientes que não consigo descrever acordado, mas que me deixam sempre com uma sensação de desespero e angústia.
…
- Está Luís?
- Sim, estava a bocejar, estou cheio de sono, e parece que passei toda a vida a dormir, estou morto de cansaço.
Silêncio, o ruído irritante do silêncio começa a entrar na cabeça de Luís e a deixar marcas, marcas profundas. Não deve haver nada pior que o silêncio duro e pesado da indiferença.
- Está Hugo, ainda estás aí? Hugo! Hugo!
Nada só silêncio
Tentou desligar o telefone, já não conseguia, enquanto antes o telefone flutuava no ar, agora o cómodo auscultador tinha-se transformado numa âncora que agarra o seu ouvido e não pára de o puxar para baixo.
Luís já está deitado a arrastar no chão com o telefone a puxá-lo.
O telefone começou a marcar um número qualquer.
Estou outra vez a ver-me fora de mim.
Não, não pode ser, o telefone marcou o número 222 22 22…
Está impedido felizmente. Quem será que estará a falar para lá? Gostava de saber quem é, queria conhecer essa pessoa.
O telefone voltou a tentar outro número, agora tentou o 222 22 24.
Está a chamar…
quarta-feira
Eu gosto desse texto descampado
Em que janela enuncia imagem.
Descompasso de sentidos, de cores, de sons...
(gosto do texto da nossa foto)
Eu gosto desse andar sem compromisso
Em que adormecemos juntos
Sempre juntos
Pele com pele
No balançar das horas no asfalto.
Eu quero contigo percorrer distâncias!
Paisagens de um pampa esquecido aos horizontes
E sentir que nós dois entrelaçados
Chegaremos à outra estação
e à outra e à outra e à outra...
E assim andamos.
Fico com uma enorme alegria quando reparo que não estou mesmo nada sozinho no mundo, em relação a tudo, tenho amigos de quem gosto muito, tenho-me a mim com quem cada dia que passa consigo conviver melhor, tenho uma familia maravilhosa repleta de pessoas que amo e admiro, e encontro pessoas pelo meu caminho que me abrem novos horizontes e que passam a fazer parte da minha vida.
Uma dessas pessoas conheci há dois anos, na União Budista Portuguesa, quando decidi descobrir o que era isso da meditação Budista, pessoa maravilhosa com uma sensibilidade muito especial e um dom para escrever fora do normal, desde sempre admirei a sua escrita e hoje escrevo sobre a Ethel porque já percebi que não sou o único a admirar a sua escrita por aqui, quero por isso partilhar um bocadinho muito pequeno mas muito bonito daquilo que ela escreve.
Para aqueles que como eu ficam embriagados com as palavras da Ethel, sigam este link.
Um Abraço a todos.
terça-feira
Aprender a ser Rapaz, com C.
Pequeno conto com banda sonora do Quiz Musical #01 - #09
Era uma vez um rapaz cabisbaixo, tinha deixado de acreditar em tudo, em todos, nele mesmo. Pior, preocupava-se em acreditar e que acreditassem nele, ao invés de viver. Não vivia.
Começou por jurar a si mesmo dizer sempre a verdade, a todos, a tudo, a ele mesmo. Começou por acreditar, porque a jura é muitas vezes um princípio para a crença, que saberia sempre o que é a verdade.
Mas não conseguia conhecer ninguém, mesmo o mais aparentemente parecido com ele, que lhe mostrasse acreditar na verdade. Estava farto. E assim abandonou o outro a quem também um dia já tinha jurado ser sempre verdadeiro.
Vagueou pelo mundo, amorfo.
Até que um dia, numa tasca boémia, conheceu um rapaz grisalho que lhe disse: amar e ser amado é a única coisa que há a aprender nesta vida.
Saiu da tasca embriagado de palavras, começou a entregar-se aos que mostravam viver a intensidade da vida, aos que mostravam ter fome quando fome tinham, os que morrem de vontade. Foi cercar-se do fogo dos que ardem e deixar arder-se no fogo dos seus próprios sonhos e desejos.
Viveu assim, algum tempo, encantado.
O tempo passou, como sempre passa, o rapaz cresceu e mudou, como todos crescemos e tudo muda no devir do tempo, e certo dia reencontrou o passado numa estação de comboios, numa nova encruzilhada ou bifurcação. O sonho passado, já tinha passado à história, agora, depois de tanto fogo, tanta chama imensa, imensa mudança, o sonho era novo, era outro. Quem sabe o passado poderia ser um novo presente?
Sonhou com isso e questionou. Será isso o amor? Será o amor fazer todos os dias do passado um novo presente?, ardente!, e nunca esquecer?
A nova dúvida, quase certeza, gerou no rapaz um novo medo. Algo o prendia numa gravidade estática, queria voar, sentia que queria voar mas o seu corpo era um peso sempre presente, uma prisão do seu provir. Não conseguia dançar a dança dos corpos interligados, pavio magistral do amor.
Sentia-se novamente perdido, como fazer do passado, presente?
Aceitou, entregou-se, deixou de se preocupar com a queda, cair passou a ser voar.
E o presente de súbito é constante.
Por mais frio, por mais dor, agora o rapaz construí túneis a ligar janelas, e as cores são todas belas e ardem dentro dele.
Respostas ao Quiz musical #01-#09
#01 - The Boy With the Thorn in His Side - The Smiths
(extravaganza)
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#02 - La Vérité - Vive la Fête
(amelinha)
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#03 - Nature Boy - Toquinho & Vinícius
(nobody)
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#04 - Senhas - Adriana Calcanhoto
(sem resposta)
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#05 - Olá (Cá Estamos Nós Outra Vez) - Jorge Palma
(pinky)
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#06 - Is This Love - Alison Moyet
(pi)
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#07 - My Body is a Cage - Arcade Fire
(nobody)
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#08 - Pioneer to the Falls - Interpol
(su)
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#09 - Neighbourhood #1 (Tunnels) - Arcade Fire
(i_scream)
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Bela Valquíria.
Escrevo-lhe para perguntar. Questiono para contrabalançar as suas afirmações. A pergunta normalmente gera diálogo, a afirmação quase sempre engendra discussão ou termina com o possível diálogo.
A Valquíria sabe a imensa beleza que contêm os seus olhos?
Já alguma vez tropeçou num degrau, a subir uma escada?
Quando e Onde é que nasceu?
De quê é que tem Medo?
Qual foi o lugar mais longínquo que já visitou?
Gosta de animais? De qual gosta mais?
Gosta de fazer ditados?
O que lhe custou mais perder até hoje?
Se fosse possível viajar no tempo, a quando ia?
Já alguém a amou?
Já fez mal a alguém, com intenção de o fazer?
Está a ler algum livro neste momento? Qual?
Sabe o que é um orgasmo?
Sempre viveu em Lisboa?
Quer ir dançar Tango comigo? Quando?
1+1= ?
Já mergulhou em mar alto, sem terra à vista?
Já se sentiu musa dos meus orgasmos?
Já partiu a cabeça?
É destra ou canhota?
Lembra-se do seu primeiro beijo com a língua?
Tem irmãos?
Onde é que não entra?
Em que posição adormece mais facilmente?
Vai responder-me a todas as minhas questões?
Tem vontade de ouvir as minhas afirmações?
Quer descobrir ou inventar um mundo novo?
Quantas vezes inspira num minuto?
Já se viu de costas?
Recebe este meu Beijo?
Vladimir Severo.
Isto há coisas realmente surpreendentes.
Então não é que ontem li Jorge Luís Borges pela primeira vez na minha vida.
A biblioteca de Babel.
Meu Pai tem as obras completas, ainda arrumadas na mesma estante do seu escritório, e nem mesmo assim, quantas vezes me tinha falado dele?, nunca o tinha lido.
Leitura difícil para se realizar na horizontal, carece de alguma concentração na respiração, há que ter na mesma conta as letras, as pontuações ou os espaços, tudo é símbolo e significado, carece de abertura mental, muitas vezes difícil de alcançar na horizontal, posição ideal para se perder a cabeça.
Contudo, o surpreendente não é o facto de ter lido pela primeira vez o escritor, poeta ou ensaísta argentino, nem tão pouco o ter ficado completamente petrificado, ainda menos o ter sentido o quanto ainda mal escrevo.
O verdadeiramente surpreendente, porque gosto de números, porque gosto de matemática, porque gosto de datas, porque gosto do Tempo, foi hoje ter descoberto que Jorge Luís Borges nasceu no dia 24 de Agosto de 1899, ou seja 75 anos antes de mim.
segunda-feira
Adormeceu agarrado a Bonnie e à chave da mala que viajava por debaixo do banco.
Sonhava, ainda com todas as aventuras recentes, com os perigos e as fugas, durante o sonho ia tendo espasmos, de emoção, eram as réstias da adrenalina a fugir do seu corpo, quase estrangulava Bonnie, sua paixão de sempre. O seu único bem e verdadeiro.
Mais facilmente perdia a chave, com menos dificuldade podia ter levado a chave e a mala, Bonnie não iria ser capaz.
Dormia agarrado à sua vida, com toda a sua força, ali naquela noite era claro, Bonnie era a sua outra metade, aquilo de que sempre sentiu saudade e falta, antes de a encontrar. A mala era o que ambos tinham construído juntos, o fruto do seu amor.
Viajavam no presente, entregues um ao outro, unidos quase presos, eram um só presente e viajavam com o futuro por debaixo do banco.
Tinham assaltado um banco e o casino Rio Uruguay em “Paso de los Libres” pequena cidade situada na margem ocidental do rio Uruguai na província de Corientes, na Argentina.
Há quatro dias atrás estavam em Uruguaiana, viajavam sem destino, e somente com um objectivo, viverem o presente juntos.
Lá, ouviram falar várias vezes da cidade de Libres, situada do outro lado da ponte.
Ambos sabiam que queriam ser livres, livres sempre.
Atravessaram a ponte, roubaram o banco, fugiram, esconderam-se.
Três dias depois decidiram roubar o casino também. Libres sempre foi uma cidade pobre, o banco pouco dinheiro tinha.
Assaltaram o casino e fugiram, conseguiram apanhar este comboio, e agora viajam à minha frente em direcção a Tartagal.
Em Tartagal, cidade do norte da Argentina, iriam encontrar uma fotografia perdida num banco de jardim, encontrariam nesse dia um novo objectivo, um pouco mais longínquo, Machu Picchu.
Atravessaram a fronteira para a Bolívia, viajaram ainda três semanas sempre por cidades pequenas e pouco povoadas, assaltaram mais um banco na Bolívia e a ultima vez que consegui sentir o seu paradeiro, estavam a chegar à estação de comboios de Machu Picchu.
Dentro de ti não tenho tamanho
Dentro de ti não tenho ser ou querer
Dentro de ti só tenho prazer.
As minhas costas são presas fáceis
Os meus olhos são capturados vivos
A tua roupa queima-me
Enrolado em ti sou mais do que um braço
Entrelaçado em ti sou uma orgia no teu corpo
Espetado nas tuas mãos o meu prazer é inocente
Desmaio em cima de ti
Escorro a lágrima deste nosso prazer
Percorro o caminho até ao próximo salto !!!
Invisível na sombra
Agachado nas nuvens
Por detrás de cada embalagem deste sentir...
Olá..
Desta vez escrevo-te porque não sei desenhar.
E só me vem uma imagem à cabeça.
A do meu sonho.
A do meu acordar.
Brincávamos que nem adolescentes depois de mais uma noite de "paixão" juntos.
Eu fingia que tinha cócegas, só para me agarrares mais e mais.
Só te queria ali, por mais um minuto. Para não te dizer nada, e quando partisses, descansar na minha dor.
Esta foi a segunda carta que te escrevi, e rasguei.
domingo
sexta-feira
Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2008.
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quinta-feira
Venho por este meio, e de uma vez por todas, fornecer uma atitude ao governo deste país. Por entre tantas leis que são feitas sem utilidade nenhuma e sem aplicação nenhuma, existe uma que ainda não foi nem escrita, nem idealizada, nem aplicada e que seria de extrema utilidade.
É urgente produzir uma lei que obrigue todos os construtores civis deste país a utilizarem apenas sanitas equipadas com um micro chip, os fabricantes de equipamentos sanitários terão que se enquadrar nesta nova lei. Mas é urgente existir um mecanismo de análise e transmissão de informação em todos os sanitários.
Assim, e de forma rápida, simples e eficiente, o governo ficará a saber tudo sobre os portugueses.
Existirá maneira mais fácil de saber o que se passa no interior de cada ser humano, do que analisar os seus excrementos?
Assim o governo ficará a saber, quanta droga é consumida, quantas mulheres estão grávidas, quanta carne ou soja é consumida, e até a qualidade do que é consumido. Praticamente tudo.
Os chips em questão, obviamente, enviaram também à central a informação da sua localização e do momento exacto de cada descarga.
Sanitas com micro chip já, é urgente.
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Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar
Tonto de emoção
Com sofreguidão
Mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria, entontece
És fascinação, amor
Somos um do outro e temos mãos,bocas e dedos em toda a parte
Somos beijos, rodopios e soluços de prazer
Somos cheiros, suores, e temos roupa, brincos e cabelos pelo chão
Somos abraços, deleites, carícias e apertos, sempre em contra-mão
Somos um reboliço quente que brinca à cabra cega
Somos loucos, curiosos, obsessivos mas leais ao corpo um do outro
Somos tudo e nada num só corpo e momento
Estamos anestesiados pelo prazer e pela descoberta
Estamos vermelhos de paixão, de rubor e de suor
Estamos alertas e felizes como crianças que jogam ao dominó
Estamos quentes, e já com cãibras, das ginásticas, atropelos e equilíbrios que fizemos
Estamos juntos e unos com vigor e com ou sem dúvidas?
Estamos famintos de amor, de atenção e de desejo
Estamos surpresos pela rapidez e facilidade desta entrega inesperada
Estamos perplexos com o que a vida nos dá sem aviso
Sorrimos agora à surpresa, à mudança e ao que há-de vir
Sorrimos ao momento e às recordações que ele nos dará amanhã
Sorrimos ao desafio e ao desabafo de o repetir vezes sem conta
Sorrimos à vontade de o repetir aqui, agora e já
Sorrimos e escorregamos na seda dos lençóis desfeitos e frisados
Sorrimos ao encanto das trocas e baldrocas do corpo e do olhar
Sorrimos à desgarrada, sem medo e ao brilho desta união
Sorrimos e rendemo-nos sem hesitar à magia do nosso primeiro encontro.
Sorrimos à Vida e brindamos com moscatel, ao Amor.
Sorrimos, porque, aqui e agora, somos e estamos… juntos.
Agarra-me! Não me largues, quero sentir, quero sentir que não foges, não fugas, não fugas, larga-me, larga-me, chega, chega!Todas as minhas dúvidas pairam aqui neste quarto, todas as experimentações, tu aqui és tu e não és tu, transformas-te, ficas poderoso, ficas leve, alucinas até à exaustão, larga-me, agarra-me, deixa-me! Tudo se passa nesta espaço, mas tudo morre rápido também!
Atiras-me para o chão, continuamos sem parar, não conseguimos largarmo-nos.É uma luta, uma luta alucinada, desenfreada, animalesca, aqui somos animais e não pessoas, aqui deixamos de pensar…
Aqui suamos de uma maneira estranha, diferente… o Suor sai por tudo o que é poros, ficamos húmidos, vai parar, vai parar, vai parar!!!!
Esta quente aqui por entre as pernas que sao tuas, as que sei agora que te explodes assim e que sei que nao ha mais para alem deste dia que e so meu porque tu nao me sentes como eu te sinto. Porque eu sei em mim que o que e teu nao me pertence. Na dor do meu prazer coberto pela percepçao que o desfecho esta proximo e é triste na minha tristeza maior.Ja sei que amanha vou acordar e o corpo que eu conheci tao bem nao vai la estar no quente dos lençois mas so por baixo do meu corpo frio de saudade. Ja sei que as minhas maos sao duras para a pessoa em que me tornei na minha frieza face a ausencia de sorrisos. Nao sei sorrir mas sei fingir, abrigo-me à sombra da minha força que ainda nao existe e por mais lagrimas que largue no chao sem chao deste trapezio que e so meu eu sei que que desta queda que nao é queda e so me fez escorregar eu so me vou levantar mais alta.Eu sei que no carinho que te tenho me levanto desta cama hoje com a certeza de ser em mim aquilo que sou tao maior, tao mais forte tao mais alta.Esta foi so a primeira noite.
Agenda de Vladimir Severo
Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008.
1 - Increver-me num curso de culinária.
2 - Fazer um cartão de crédito na florista.
3 - Comprar candeeiros.
4 - Ir ao cabeleireiro.
5 - Escolher roupa e perfume novo.
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1
Quero minha cabeça em seus braços
paro o relógio
deixo que o tempo se ausente
Se me for dado somente um minuto
não lamento
Penso nele devagar
quando me beija a boca
a coxa entreaberta
a púbis
Quando me beija por dentro
Sou a puta da esquina
sou a virgem Maria
Se o seu tempo for só de um segundo
será nele que inventarei a eternidade
É assim que o amo
Não me importa
se no minuto seguinte
já não está comigo
Ele é o homem que amo
Se o seu tempo
for de um compasso
que ele seja de pausa
porque urge o silêncio
Se for um desenho
que ele seja branco
tão intenso o que sinto
Eterno é o momento
quando ele me beija por dentro
_____________________________________________
2
era doce - tão doce
teu corpo vermelho
enviesado na colcha
era doce - tão doce
feito meu sémen
dentro de ti
na cama, na colcha
vermelho
era teu corpo
em mim
quarta-feira
E de súbito um pressentimento
De súbito em aperto
De repente, uma angustia
Vêm, não sei de onde
Pensamentos autónomos
Produzem sensações
Sensações desgovernadas
Criam tumultos, gélidos
E eu no meio
Já sem escolha
E de súbito uma ideia, solta
Incrivelmente concreta
De repente, uma ansiedade
Apenas futuro e passado
E eu perdido
No presente
Não. Não tenhas pressa.
A manhã já não nos pertence.
Óscar trabalhava como empregado de mesa. Todas as terças-feiras ia ter com o seu amante numa pensão discreta mas de má fama nos confins da cidade.
Ana, esposa de Óscar era professora na escola mais próxima. Tinham três filhos. Maria, mãe de Ana, tomava conta deles durante o dia. Ana não era feliz. Odiava os filhos e fazia os possíveis para chegar o mais tarde que podia a casa. Na escola entrara um professor. Ana enamorara-se. Nunca se tinha sentido tão feliz e realizada. Encontravam-se sempre que podiam numa casa de família de Júlio, amante de Ana. Era uma casa vazia, esquecida pela família. Ana não gostava da casa, mas era o melhor que podiam arranjar.
Maria um dia foi ajudar uma amiga com a venda das flores. Sempre trazia algum dinheiro para casa, pois os tempos estavam difíceis. Nesse dia, viu Óscar e quando ia falar com ele, reparou que ia muito apressado. Intrigada, seguiu-o. Achou estranho ele entrar naquela pensão moribunda e decadente. Entrou com repulsa. Cheirava a queijo bolorento. Subiu as escadas que davam para os quartos e viu Óscar entrar. Maria, zangada e revoltada decidiu agir. Era uma mulher impulsiva e nem pensou duas vezes. Abriu a porta e viu dois homens seminus a beijarem-se. Maria ficou perplexa. Saiu a correr sem olhar para trás. Óscar, vestiu-se o melhor que conseguiu e encurralou Maria no corredor. Implorou-lhe para não o denunciar à polícia, para não contar nada a Ana. Convenceu-a com o ultimo argumento que nunca mais veria o tal homem. Maria nem sabia o que pensar. Fechou-se e nada disse a ninguém.
Ana acabara as suas obrigações na escola e foi directamente ter com o seu amante. Feliz da vida nem reparou que a sua mãe estava a vender flores. Maria fervia há um mês com o que vira na pensão. Seguiu a filha para desabafar, já não aguentava mais. Porém, algo não batia certo. Onde ia Ana? Que casa era aquela? Viu-a entrar ao longe, Ana ia tão depressa que Maria não conseguiu manter o passo a tempo de a abordar. Chegou à porta da casa e tentou recuperar o fôlego antes de entrar. Ana estava tão cabeça no ar que nem reparara que deixou a porta por fechar. Maria abriu-a e não viu ninguém. Chamou por alguém, mas nada. Deu mais um passo e ouviu qualquer coisa. Abriu a porta de onde vinha o som e para seu horror viu Ana mais o amante numa posição pouco própria. Ana sentindo-se surpresa e humilhada, agarrou num lençol para se cobrir e foi ter com a mãe.
-Mãe? Por favor, não contes nada ao Óscar! Peço-te! Nunca estive tão feliz. Promete-me!
Maria não disse nem uma palavra. Saiu devagar, como se não tivesse visto nada.
-Júlia, disse Maria à sua amiga florista, Preciso de me ir embora. Desculpa, mas não posso ficar mais.
-Maria! Mulher, mas que tens? Estás pálida! Sentes-te bem? Disse Júlia.
-Sim, eu estou bem. Vou-me embora.
Maria chega a casa, tinha pedido a uma vizinha para vigiar os miúdos. Sentou-se numa mesinha e escreveu:
Óscar e Ana,
Quando lerem esta carta já não estarei entre vós.
Espero que reconheçam o favor que vos faço.
Amor e carinho,
Maria
Ana e Óscar encontram-se à porta de casa. Olham-se e falam do tempo. Entram e não encontram Maria nem os miúdos. A casa está demasiado silenciosa. Sentem a falta do cheiro do jantar acabadinho de fazer. Ana entra na casa de banho e dá um grito. Óscar vai ver o que se passa e agarra Ana e abraça-a com toda a sua força. Choram os dois, gritam e desesperam. No lavatório estava o pedaço de papel que a Maria escrevera. Óscar grita que a culpa é toda sua. Ana grita que a culpa é toda dela. Cada um chora para seu lado deixando o cenário de terror para trás. Maria e as crianças, mortas.
- Óscar, a culpa é toda minha. É um castigo de Deus. Eu traí-te com Júlio, a minha mãe apanhou-nos hoje… A culpa é toda minha… Porquê? Mas porquê? MÃEEEEEEEE…..
-Ana, não posso crer! Tu?? Tu o quê???? O Júlio?? O novo professor??? Mas ele veio para cá, por MIM. Ele era meu amante! MEU!
- Que dizes???
- Agora compreendo tudo, pois a tua mãe também me apanhara com ele…
eu já sou o que quero ser.
sempre sonhei quando abria o guarda-fatos do meu pai vestir este sobretudo, este casaco, estes sapatos. adorava como eles ficavam grandes. e eu sentia-me grande. lá em casa riam-se. e eu pensava um dia quando eu tiver o meu sobretudo, os meus sapatos, respeitar-me-ão!
hoje a minha mãe acordou-me e obrigou-me à pressa a vestir este meu sonho. mas quando cheguei à rua todo inchado de orgulho por mostrar a roupa do meu pai, ninguém me respeitou. uns riam-se outros choravam. os de sacos às costas choravam, os de armas à frente riam-se.
preferi começar a olhar para o chão, para não ver aquelas caras desfiguradas, e penso: não era assim que eu queria ser!
os sapatos tornam-se desconfortáveis, o sobretudo horrivelmente pesado. e eu não percebo porque é que não pude trazer a minha roupa vestida. Peço as minhas roupas à minha mãe. ela diz-me: as tuas roupas já não servem para nada. já não és criança. Vais crescer e são estas as roupas de que precisas.
Olhei para as pedras, para os quadrados enquanto me separavam da minha mãe...
ela tinha razão.
pouco depois o sobretudo ja me servia. já não era um estranho. e penso como é que numa situação daquelas ela teve a esperança de eu algum dia sobreviver.
mais uma vez teve razão.
agora tenho um guarda-fato, como o mesmo sobretudo e guarda-chuva, mas ainda espero pelo dia para ser aquilo que quero ser.
Que distâncias suporta a passada que ainda não dei?
o bico do chapéu é rastro
de não sei que mundos...
caminhante, meu destino é ir.
talvez com esperanças de um dia andar sem nenhum peso...
ou sem passado,
cartografar fissuras no caminho!
o guarda-chuva faz ver a pedra por onde andei e não me vi.
Mas a terra por onde sonho, não deixa marcas.
Quero criar meu passo,
erguer do chão a minha sombra!
terça-feira
Gosto tanto desta versão que tenho que a publicar aqui.
Calexico - Ocean of Noise
boomp3.com
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Nossos corpos misturados
Sobre a colcha, sobre flores
Vermelho e Negro
Somos dois corpos?
Quantas mãos afinal?
As nossas roupas despem-se
As tuas ancas as minhas mãos, ou não?
Pernas presas em pernas
Sexos quentes tocam-se
Lábios e saliva por toda a nossa pele
Existe algo mais?
Fomos algo mais?
Onde estamos?
Existe tempo?
Cheiramos a nós
Saboreamo-nos
Entramos em nós
Misturamos
Somos
Agora e Aqui
Uma, Duas, Três
Qualquer vez
Aqui e Agora
Somos
Estás em mim
Tudo onde toquei, saboreei, Fiquei.
Tudo que cheirei, ouvi, Fiquei.
Tudo que senti, vi e Fiquei.
Estou em Ti