terça-feira

No inicio deste blog, existe um pequeno texto sobre o encontro, sobre o facto do espaço ser curvo, sobre o facto de nem todos viverem ao mesmo ritmo, e mesmo a viverem o mesmo acontecimento, as pessoas vivem-no de forma diferente a ritmos diferentes.
Encruzilhadas, palavra pela qual sinto uma especial atracção, uso-a muito, num poema um pouco mais atrás, neste blog, lá está ela.
Cruzamentos, esquinas.
Desde sábado que toca em repeat no meu carro a música do Jorge, que fala um pouco disto tudo, e da forma maravilhosa como ele escreve. Depois existe também a minha já mencionada paixão por comboios, e lá estão os pouca terra na música do Jorge também.
Mais os pianos, amigos de longa data.
Prometi-lhe não a “encavacar” mais. Gosto de tentar cumprir com as minhas promessas, mas odeio fazê-las, não gosto de prometer nada. O prometer tem a ver com o futuro, eu quero viver o presente, não me interessa saber o que vou fazer ou deixar de o fazer amanhã, interessa-me sentir e saber o que estou a fazer agora. E neste momento escrevo sobre a encruzilhada de ontem.
Vou reencontrar-te noutro bar de estação, pensei eu numa estação de comboios é claro, errado, reencontrei-te no bar da estação de serviço.
Podia ter saído do atelier mais cedo, ou mais tarde. Tanto tinha pouco trabalho para acabar com urgência, como tinha trabalho para desenvolver e adiantar. Sai às dezanove e um quarto (19:15).
Podia não ter ido dar um beijo às minhas sobrinhas e saber da vida delas, e podia apenas ter dado o beijo e ido embora, mas fiz cócegas e elogiei os ténis novos.
Podia não ter parado na estação de serviço para alimentar o depósito do carro, afinal de contas tinha gasolina para chegar ao meu destino, mas não tinha para voltar e ainda tinha algum tempo. Tinha combinado estar no bairro às nove (21:00), eram oito e pouco (20:…).
O cartão de Multibanco podia ter funcionado na porcaria da bomba, mas por mais vezes que tentasse, e também podia ter tentado só uma, a mentecapta da bomba só dizia: cartão ilegível.
Alimentei o depósito e fui pagar no interior da estação de serviço.
Estavam umas quatro (4) pessoas na fila, dois lugares à minha frente e na véspera de ser atendida, de costas para mim, estava uma mulher que me atraiu de imediato.
Deve ser linda, ela. Observo com mais atenção e de súbito caiu em mim. Não pode ser… ao chegar a sua vez consigo ouvir a sua voz e pronto, era mesmo ela.
Agora até mesmo sem a reconhecer ela me atrai e eu que lhe prometi que não a “encavacava” mais. Quer ser comigo aquilo que já é. Pelos vistos tem menos ambição que eu.
Cumprimentamo-nos, tento sorrir-lhe cá do fundo, mas se lhe prometi que não a “encavacava” mais, como é que lhe posso sorrir de outra forma que não a de quem se quer encruzilhar com ela.
E pelos vistos já somos dois a querer o mesmo, eu e o acaso. E logo agora que já tão raramente me sinto sozinho, o acaso decidiu acompanhar-me.
Disse-lhe de onde vinha, mas não lhe perguntei porquê. Na verdade já pouco me importa as minhas razões ou as razões dos outros. Quantas vezes procurei a razão? Quantas vezes senti eu, ter a razão? Tenho cá para mim que foram exactamente e matematicamente as mesmas vezes que sofri com as consequências.
Ela disse-me para onde ia, e foi.

0 opiniões: