segunda-feira

Debater Citações #06

No dia do centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, maravilhoso escritor da língua Portuguesa, volto ao blog e deixo aqui algumas citações para debate e homenagem ao autor.

“Prefiro cair do céu a cair de um prédio de dois andares”


“Escrever é uma questão de colocar acentos”

“As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos”

“Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão”

“Há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos”

“Descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.”

“Não se ama duas vezes a mesma mulher”

“Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os, eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.”

terça-feira

Uma Animação!!!


quarta-feira

No mínimo acho imensa piada, já me fartei de rir.
Então não é que a maior economia capitalista e liberal do mundo acaba de assumir o controle sobre uma seguradora para não a deixar cair em falência.
Mas espera lá isso não é mais ou menos o mesmo que o Sr. Chaves fez com a companhia petrolífera da Venezuela? O estado ter o controlo sobre as empresas mais importantes para a sociedade não é um dos princípios básicos do socialismo?
Já não percebo nada, que eu me lembre o Comunismo ou mesmo o Socialismo foram assassinados e logo vieram dizer que eram ideologias já mortas, mas afinal parece que o liberalismo e o capitalismo andam a adoptar estratégias dos mortos para sobreviverem.
Cá para mim isto ainda acaba em suicídio.

terça-feira

Para o meu amor, que tantas vezes com seus sonhos me ergue da letargia. Um pouco do sonho de Vladimir Severo e Valquíria Gondul.



segunda-feira

Para todos os meus amigos, mesmo os aparentemente mais improváveis, para todos eles que já tantas vezes me reconstruíram e que fazem eternamente parte fundamental daquilo que sou.


domingo

mas afinal, vozes de Burro chegam ao céu?

quinta-feira

Isto há coisas… Tenho praticamente a certeza que todos os que me lêem, sabem perfeitamente onde estavam, o que estavam a fazer, talvez até o que comeram logo depois e o que tinham vestido há sete anos atrás.
Pois eu estava no centro comercial Colombo a comprar umas calças de ganga, na loja em frente haviam uns televisores na montra, quando olho para lá estava já um monte de malta colada à vitrina. Será que há bola hoje? Fui ver o que seria e vi uma torre a arder. Pensei que seria um incêndio. Fiquei a olhar um pouco mais e vi em directo o segundo avião embater nas torres.
Fiquei perplexo, voltei para a loja das calças, quando estava a experimentar umas levis recebo uma mensagem do meu amigo Hugo a dizer árabes-2 americanos-0. E agora quanto é que estará o resultado?
E tu, onde estavas há sete anos atrás?
E no dia 24 de Agosto de 2001, lembras-te onde estavas?

Galileu nasceu na cidade de Pisa, onde há uma torre quase a cair, há quatrocentos e quarenta e quatro anos. Faz hoje sete anos que o planeta gira em torno de duas torres que já caíram. Sete anos pode ser muito pouco tempo, a torre de Pisa já leva oitocentos e trinta e quatro, mas para mim já é tempo demais.



quarta-feira


LHC e não THC!


O velho do Restelo diz que é uma máquina brutal, que isto ainda vai acabar mal, que é pior que a bomba atómica, que vai criar um buraco negro e engolir-nos a todos.

Eu não sou do Restelo e apesar de estar a cada minuto mais velho, estou cheio de esperança de que novos conhecimentos surjam desta experiência e que eu ainda esteja por cá e com capacidade para os compreender. Visto que é um acelerador, espero que seja rápido.

sexta-feira

Quiz musical #10
(consiste em descobrir a música e o autor de um excerto de uma letra)

"(...)
What the fuck is happening?
Where has everybody gone?
What the hell is going on?
There is nothing as frightening as being alone
(...)"





Todos os dias caminhava ao longo do rio, reconhecendo tudo pelo seu reflexo nas límpidas águas. Árvores acenantes, pedras deslizantes, pássaros cantantes, céus nublados ou azuis, tudo visionava no espelho sereno mas corrente. Naquele dia, algo cortou essas imagens. Uma figura singular, quase imersa, desviava-me a atenção. Jurei a mim mesmo nunca me atrasar aos meus deveres, mas o magnetismo daquele corpo nu desviava-me do cumprimento. Aquela beleza sobejava na paisagem, afogava os outros sentidos e fazia crescer um desejo. Tocar-lhe era imperativo, não apenas pela ânsia da concretização mas também pela confirmação de que era real. Com receio de acordar a sedutora passiva, aproximei-me lentamente, com os passos sorrateiros a que habituei aquele lugar. Estava prestes a tocar na sensualidade ali repousada, a pousar minhas mãos nas curvas de uma volúpia incerta, a sentir a pele fresca da juventude e os seios firmes de uma certa inocência. O ímpeto sobrepunha-se à moral e a corrupção à consciência. Já quase com o sentimento de posse a dominar-me, a mulher agarra-me com firmeza e mergulha-me nas águas que se vão turvando. "Seria castigo? Sou punido por sucumbir à harmonia e à natureza?". Foi a dúvida que se formou antes da sua mão de sereia me privar do meu derradeiro fôlego.

quinta-feira

Música Motas e Grades


Eram outros tempos, havia muito mais pobreza neste país, que não restem dúvidas sobre isto. Eram tempos em que se dava prioridade aos homens para estudar, as meninas podiam perfeitamente ficar em casa a aprender as lides domésticas para mais tarde serem esposas de um homem, trabalhador, abonado e respeitador assim se sonhava.

Em tempos de escassez ter um filho era um enorme risco e aventura, ter dois era uma loucura e ter mais que dois era como jogar na lotaria, na esperança que todos sobrevivessem e algum no futuro tivesse dinheiro para proporcionar uma velhice descansada aos pais.

Para eles a gravidez tinha sido um acidente, forma fugaz que contem em si a tentativa de aceitar e apaziguar a verdade, quem brinca com o fogo acaba por se queimar um dia. Foi um acidente, o fósforo acendeu com uma chama muito alta. Tantos fósforos acendeu, algum deles um dia os iria queimar.

Assumiram a gravidez, casaram, foram viver juntos para uma pequena casa na aldeia. Cinco meses depois da mudança era chegada a hora de receber o fruto do acidente. Nessa tarde, por pressentir e perceber que era chegada a hora, ela foi para casa da sua mãe e a parteira da aldeia foi lá ter. Às onze da noite começou a hora curta.

Ao invés de um, a parteira trouxe ao mundo dois seres humanos. Afinal a barriga tão grande tinha uma explicação lógica, eram gémeos. Já todos tinham pensado e percebido isso, ninguém se atrevia a afirmar.

Duas bocas, duas goelas, quatro ouvidos, um infinito mistério cerebral e interior ao quadrado.

Um rapaz e uma rapariga.

Até à quarta classe foram colegas de sala de aula, depois separaram-se. Ela já sabia ler e escrever era o bastante para uma rapariga. Ele foi para o primeiro ano do ciclo na vila mais próxima.

A obrigação deu-lhe uma enorme resistência para estudar, era uma chatice, fingia que estudava e lá foi conseguindo passar de ano, sempre sem um futuro muito risonho pela sua frente.

A proibição deu-lhe uma enorme vontade de aprender, de noite, quando todos dormiam em casa, levantava-se e roubava os livros do irmão. Lia-os com toda a atenção e com enorme prazer, fazia os trabalhos de casa que não eram para ela, lia as perguntas dos testes e tentava dar-lhes resposta. Volta e meia surpreendia a família ao dar resposta a dúvidas do irmão sobre coisas que os pais nunca tinham ouvido falar. Foi aprendendo por si e nunca perdeu a vontade de saber mais, cresceu com um futuro assustador à sua frente, Olha que os homens não querem mulheres muito inteligentes, ouvia.

O tempo passou, e ao passar gerou a mudança. Com os novos programas para dotar as pessoas com a escolaridade mínima, tirou o nono ano sem pestanejar, e não parou de estudar e aprender. Aos quarenta e cinco anos formou-se em sociologia, sempre a trabalhar ao mesmo tempo, na grande cidade. Hoje é professora, nem outra coisa poderia ser.

quarta-feira

             A nova casa tinha dois andares, ligados por uma escada de vinte degraus, dois lances de dez degraus unidos por um patamar a meia altura.

             A casa antiga era praticamente um corredor, entravasse quase a meio, para a direita tinha a cozinha, em frente a sala e para a esquerda três quartos e duas casas de banho.

             Se todas as portas estivessem abertas, do quarto ele conseguia ver tudo o que se passava em casa. O quê e quem cozinhava na cozinha, o que estava a dar na televisão da sala, o que a irmã fazia no quarto dela, tudo. O corredor tinha uma fila de armários com espelhos nas portas, com a ajuda deles a capacidade de observação era quase total e directamente proporcional à falta de privacidade.

             Cresceu assim, a saber sempre o que se passava à sua volta.

             Depois, a casa nova era tão grande, tão acusticamente isolada que o quarto dele mais parecia uma cela de onde não se via nada e menos se ouvia. Começou por andar a correr pela casa e espreitar às portas, a subir e descer a escada a toda a velocidade, a ir da cozinha para a sala de estar passando pela de jantar.

             Um dia, não sei ao certo se a meio da trigésima terceira ou trigésima quarta volta pela casa, tropeçou no degrau dezoito, contando de baixo para cima, quando ia a descer, ao invés disso, caiu escada abaixo. Partiu uma perna e um braço. A mãe ainda lhe disse que já o tinha avisado, o Pai foi emburrado com ele até ao hospital, a irmã riu.

             Ele passou três meses praticamente deitado no quarto dele. O seu mundo passou a ser apenas o seu quarto, a vista sobre as árvores a rua e o céu através da janela e o que a mãe e a empregada traziam do outro lado das quatro paredes quando lá iam.

             Realizou, que dentro dele havia um mundo muito maior e estranho por explorar, tornou-se um rapaz, aos olhos dos outros, fechado solitário ou tímido.

terça-feira