segunda-feira

PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
-ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente

Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny


Faço das afirmações do poeta
as minhas dúvidas.

E afinal o que importa?

Importa não ter medo sem dúvida

Não posso me preocupar com o todo
nem sequer o particular consigo abraçar

No meio das aparências
Por entre critérios
O poeta aponta-me o dedo

Afinal o que me importa?

Importa-me viver sempre, e um dia
Importa-me ter nesse dia 154cm de profundidade
Importa-me lá chegar sem dor e peso e em paz descansar.

Importa-me amar.

fotografias da experiência do Dr.Masaru Emoto - "Messages from Water"

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