terça-feira

Quando o elevador começou a subir, eu pensei que iria ficar sentado no largo do poeta zarolho à tua espera. E esperaria, coisa que odeio fazer, mas fazia, esperaria até mais que os quinze minutos de regra.
Iria ficar sentado na escadaria da estátua do poeta, por incrível que pareça, das poucas estátuas desta cidade que não olha em direcção ao Tejo, mas o poeta era zarolho, compreende-se. Iria ficar virado na mesma direcção que ele, para a saída do metro da Baixa Chiado, pressentia que seria dai que virias e queria ver-te caminhar do Chiado ao Bairro Alto.
Pode ser um momento de rara beleza observar uma mulher caminhar, e a forma como caminhas diz sempre muito de ti.
O carro ficou no piso -3 e não posso afirmar com certeza quanto tempo o elevador levou a fazer a viagem, posso no entanto afirmar que das mil e uma maneiras que te imaginei, vires do Pessoa ao Camões ao meu encontro, em todas elas estavas bela e caminhavas com poesia.
Mas depois a porta do elevador abriu, e tu já lá estavas. A trinta passos de mim, com o poeta zarolho entre nós.
Não vi o largo, não vi os poetas, não vi a noite, não vi ninguém, assim que a porta abriu, vi-te, a ti.
Vi, afinal seria tudo ao contrário, fui eu que caminhei ao teu encontro, a meio caminho olhei o poeta por segundos e voltei a olhar para ti, estavas de braços cruzados, olhavas directamente e aparentemente fixamente para mim, assim que a porta abriu.
Sorriste.
Por mais que imagine como vai ser a realidade, ela teima sempre em ser diferente daquilo que imagino, algumas vezes teima em ser muito melhor.

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