Um dia destes, fui buscar as minhas sobrinhas à escola.
Já no carro, em direcção a casa, uma e a outra começaram numa discussão sobre o precisar. Dizia a mais nova:
-Dá-me essa garrafa que eu preciso dela.
E insistia na questão do precisar.
Eu, que nunca gostei muito de discussões e ainda menos quando as mesmas trazem consigo uma subida drástica dos decibéis emitidos, decidi interferir de forma a dar por acabada a conversa. Normalmente, com elas, quando quero acabar com a conversa, opto por mensagens paradigmáticas ou paradoxais, elas ficam caladas por uns tempos a pensar na asneira que o tio doido disse, e quando desistem de pensar no assunto já não se lembram da discussão estúpida que estavam a ter.
E assim foi, para tentar dar por terminada a disputa sobre o precisar, disse para a mais nova:
-Sabes, tu só precisas de ar para respirar, água para beber, pão para comer, um lugar para te abrigares e vontade de fazer xixi e cocó. Mais nada. Por isso não estejas para aí a dizer que precisas de uma garrafa de plástico vazia.
Ela não ficou calada nem dois segundos, rematou:
-Estás enganado!!
-Estou enganado? Então porquê?
-Também precisas de Amigos.
E então fui eu que fiquei calado uns segundos, para lhe responder, depois de parar o carro e olhar para ela no banco de trás, olhos nos olhos.
-Sabes linda, tens toda a razão!
E é assim, estamos sempre todos a aprender com todos.
1 opiniões:
No tempo em que eu tinha a idade da tua sobrinha precisava de muito mais que isso tudo, inclusivamente da garrafa de água vazia e dos Amigos.
Já precisava do silêncio e do escuro, de rir e chorar, e da imaginação a fazer da areia da praia castelos de princesas e reis e rainhas.
Estamos sempre a aprender, de facto.
Beijos, Luis
Enviar um comentário