sexta-feira

"Liguei o carro, dei meia volta e segui o meu caminho, supostamente o meu caminho, deixei para trás a Travessa do Moinho Velho, depois de mais um combate contra os velhos moinhos de vento, depois de mais uma sentida derrota. Não por sentir ou achar ter perdido o combate, até porque não existem combates contra moinhos de vento, e eles, os moinhos, de tão velhos, se calhar já nem existem mesmo, afinal quem é que aqui, ainda e agora tem esperança que o vento venha?
Mas dei meia volta com a sensação de ter perdido mais uma vez, de ter perdido qualquer coisa minha que me custa sempre tanto voltar a encontrar, e por isso dei meia volta triste.
Não havia trânsito, podia conduzir sem atenção, e por distracção enganei-me no caminho, só dei por isso quando no meio do Nada, um sítio familiar por qualquer razão que não lembro qual, um sítio que parecia conhecer tão bem; esse Beco do Nada, reparei em algo que deveria ser realmente novo alí, como se eu conhecesse perfeitamente este beco mas sem aquela tableta ao canto.
O Beco do Nada, sempre tinha sido um beco sem saída, mas desta vez eu encontrei uma tableta no suposto fim do beco a indicar o Fim do Mundo em qualquer direcção.
Parei o carro e segui a pé, subi dois degraus e virei à esquerda, cheguei então a um Largo lindo, como eu nunca tinha visto, nem sequer sonhado projectar, era o Largo do Fim do Mundo, era alí o fim do Mundo.
Só haviam duas saídas ou entradas para este largo, uma foi por onde cheguei, a outra era o meu caminho.
Sem sequer pensar continuei a caminhar, a caminhar o meu caminho, deixei para trás o Mundo e o seu fim.
Não te consigo dizer por palavras como era este lugar, era onde não se andava, mas existia movimento, era o puro sentimento, acho que só com os meus olhos, as minhas mãos, a minha boca, o meu corpo e tudo em mim que comunica sentimentos, que não a palavra, te conseguia descrever este lugar que encontrei, com um simples beijo tenho a certeza que te fazia ver e sentir tudo isto.
Vi e senti as coisas mais bonitas aqui, a alegria era linda e a tristeza era sua irmã gêmea.
A solidão existia para quem queria e apenas para quem a queria, alías aqui a vontade, o desejo e o Amor eram a norma.
E depois, acordei, vivo."

É bom, encontrar textos antigos, e fotografias antigas e ainda gostar do que fizemos no passado. Hoje deixo por aqui um pouco do meu passado distante.

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