sexta-feira

As palavras são utensílios inúteis para a partilha entre dois seres humanos, não servem para mais nada que não seja a comunicação; as palavras são monstros que talham a comunicação à sua maneira e como são finitas, por maiores que os dicionários sejam, tornam a comunicação finita, também, balizada, presa, limitada, apartada, localizada, estabilizada, normalizada, estagnada, …
Os dicionários, são a lista de todas as palavras que sabemos usar, em princípio com elas seríamos capazes de exprimir tudo, mas por alguma razão, ao longo da história, os dicionários tem vindo a aumentar e a diminuir, conforme o momento histórico da humanidade.

Já existem também enciclopédias, listas telefónicas, manuais para tudo e mais alguma coisa, o ABC do Amor, o ABC da sexualidade, o ABC do bricolage, o ABC da mecânica automóvel, existe quase o ABC de tudo, entre eles o ABC do DEF que ao que ouvi dizer por palavras ensina quase tudo, se não tudo mesmo acerca do GHJ.
Este pseudo e irrisório ensaio em forma de carta e manifesto, está a ser escrito e expresso por palavras, por isso é pobre e medíocre no seu todo e inútil no seu conceito; pois pretende transmitir algo que vai vagueando e mal tratando o autor do mesmo, por palavras, sabendo o autor que nem mesmo aos gritos mudos ele consegue por para fora tudo o que lhe vai na alma, porque nem ele mesmo tem palavras que o ajudem a explorar todo o seu âmago, por isso pára sempre nessa fronteira e daí em diante é uma imensa escuridão assustadora, vertiginosa, atractiva, inebriante, estonteante, desesperante, angustiante, …
As palavras existem para dar nomes aos nomes. Mas existem nomes sem nome, e quando os encontramos ficamos vazios. Para isso então, alguém teve a maravilhosa ideia de inventar os sinónimos, no fundo são mais palavras que querem dizer exactamente o mesmo que as anteriores já inventadas, mas que não querendo dizer exactamente o mesmo, ou se o mesmo quisessem dizer diziam-no pelas mesmas palavras e não por outras quaisquer; acabam por dizê-lo.
Assim nasceu o conceito e a palavra comunicação, que é nada mais nada menos que querer dizer algo, não dizendo nada para que se pense que dissemos tudo.
Para complicar tudo um pouco mais ainda, foi inserida mais uma variável, nesta equação, já de si impossível de resolver.
É que existem as palavras escritas e as palavras faladas.
Formas diferentes de usar a mesma coisa.
Pior ainda, existe hoje também uma variável de extrema importância na convivência entre seres humanos, que é a maneira, ou a forma, seja ela falada ou escrita com que se dizem as coisas. Porque é de uma diferença abissal dizer : estou farto, ou dizer estou farto. Até porque farto quer dizer tanta coisa, estou cansado, estou exausto, estou cheio, estou abarrotado, estou saciado, estou empanturrado, estou nutrido, estou abundante, estou enfastiado, estou aborrecido, ou ainda se a palavra não se tivesse tornado nisto, estou simplesmente farto (grita).

Depois existem pessoas, como o autor deste manifesto, desculpem, pseudo-manifesto, que sente sempre que as palavras não dizem o que ele quer dizer, por isso, em vez de desistir de as usar, continua em busca delas, porque já está viciado, adulterado, falsificado, anulado. Mas mesmo para pessoas como ele já existe uma palavra: redundância.

5 opiniões:

LuisElMau disse...

Obrigado a.
aparece sempre que a vontade te visitar.

nem sempre vais ver coisas novas, é verdade, a constância é uma rapariginha muito certinha para gostar de mim e por isso eu sou muito mais amiga do seu irmão gêmeo, o inconstante.

Beijos.

Avusa disse...

Gosto da maneira, como tão bem tentas explicar o que não se explica. O que se sente.

Abraço

A disse...

:)

Sorrio.
Dá um abraço por mim ao Inconstante...
esse tipo passa a vida a fintar-me e eu ainda não o apanhei a jeito...
ele é que me apanha sempre a mim.

:)

e as palavras, as palavras... sempre tão aquém de tudo o que se sente...

gostei do teu Blog.
voltarei.

Beijos

LuisElMau disse...

Obrigado a, isto é só a's por aqui, assim já concordo com a isabel alhendre: os nomes quando são iguais confundem os livros da vida.

aparece sempre que quiseres, quanto ao inconstante, já o conheço há tanto tempo que aprendi a aceitá-lo e até recebe-lo de braços abertos. até é um tipo bem nice, nada monotono.

Beijos.

A disse...

A.mbas A.nas
Ela A.
Eu A

Não sabes se conheço o teu Blog? Claro que conheço o teu Blog!, e vou semeando ideias e pemsamentos por ele fora :)

Beijos