Ainda ia longe, do lugar já marcado na minha memória, por um passado muito recente. Mas, mais uma vez, pergunto: quanto tempo tem o presente?
No espaço materializado, na realidade tangível, ia a descer, como quem vem do Largo do Rato em direcção à Estrela.
No tempo cronometrado, quantificado, ia na vigésima primeira hora, do vigésimo dia, do décimo primeiro mês, do milésimo segundo e sexto ano, contados a partir do senhor que foi crucificado.
Só que em pensamento, não só já não me encontrava entre os ratos e as estrelas, como o tempo já pouco ou nada interagia comigo.
Sabia que era noite, que a lua prateada já iluminava o meu caminho e isso era o bastante.
Já descia de quem vem de Paço de Arcos e vai em direcção a Oeiras.
Marginal.
Ia à margem dos que me rodeavam, e tantas vezes me sinto viver assim, Marginal, à margem do que aparentemente me envolve, num mundo difícil de descrever, feito de uma mistura sem fim de espaços, tempos e sentimentos, com múltiplas dimensões.
Fiz várias vezes aquela descida, até a ter feito realmente e voltei a faze-la mais uma qualquer quantidade, irrisória por ser quantidade, de vezes.
Mas sabes? Tu sabes, nem uma única vez, fiz a descida realmente como a fiz em pensamentos.
E mesmo agora, depois de ter feito a descida, mas a subir, voltei a não a fazer.
Um dia descemos juntos.
1 opiniões:
Enviar um comentário