sexta-feira

Eles estão todos a dormir, eles podem. Podem passar a noite no disparate. Podem beber umas cervejas a mais ou uns whiskys ou moscatel, podem descobrir que isto há gente viciada em tudo e mais alguma coisa.
Há gente viciada no jogo, no rabo, no ópio, no garrote, em mamas, até há gente viciada em nadar ou lavar as mãos e os dentes.
Vícios é o que se quiser, cada um sabe dos seus, serve para arrecadar pontos, é sempre dez para cada um, só tens que te lembrar de uma palavra qualquer que comece pela letra em causa, se for um verbo ainda melhor. Vais-me dizer que não há gente viciada em mamar? Olha, eu tenho um amigo que é viciado em dormir, eu mesmo sou viciado em divagar.
Só eu é que sou um pobre coitado, um Zé ninguém, um António fala barato, um Chico esperto que não sabe com quantas teclas se construí um piano para alguém como eu, que não sabe também ler as pautas daquilo que toca. E deixo-me ir na curva e na contra curva e depois muitas vezes espeto-me, e depois durmo quatro horas e venho trabalhar a dormir. Mas será que toquei?
Isto há noites! Cada vez mais me convenço que o futuro, quando se faz presente, não é nunca o que no passado supusemos que seria. Hoje vou para casa, janto cedo qualquer coisa e deito-me a ler um pouco porque deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer.
- Olha Severo, tens planos para jantar hoje?
- Planos, planos não. Porquê?
- Podíamos jantar juntos.
- Parece-me uma óptima ideia, vou buscar-te a casa quando sair.
- Combinado.
E pronto não aconteceu nada do que eu pensava que iria acontecer. Por um lado até é um alívio ser sempre assim, porque já começo a sentir que se isto continua exponencial, pode muito bem o futuro trazer situações delicadas e colocar-me a jogar do outro lado da mesa. E não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti, pelo menos tenta não fazer da mesma forma.

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